Na casa dos suspiros

Nas brumas do tempo convivem o velho amor e o corrente desejo, entrelaçados, porém distintos, ambos carregam a intensidade da vivência humana. Em Na Casa dos Suspiros, Mia explora essa conexão mediante diferentes estágios do amor romântico, elaborando uma narrativa que traduz as emoções vividas por aqueles que já se apaixonaram.

O poema que abre o livro pode ser tido como uma chave de leitura para o todo da obra, pois apresenta uma característica de autorreflexão que se concretiza ao navegar pelo tempo dessas paixões; trata-se de “Espelho”, objeto que se materializa enquanto metáfora fundamental para a narrativa proposta e para a consolidação do contentamento de si.

A poesia de Mia cativa o leitor e o encanta, comportando sentimentos universais em versos de singela humanidade, reproduzindo a “criação constante” do eu lírico por meio de inúmeros caminhos percorridos ao longo das existências. Em poemas como “Sob o olhar de Saturno”, “Bosque sagrado” e “Do teu nome uma prece”, temos a insubmissão do tempo à potência do amor, enquanto poemas como “Vertigem ao luar” e “Canção de amor” exploram o alcance desse sentimento.

Apesar das andanças nas vidas passadas, há um tom jovial sempre presente, imprimindo frescor e um certo brilho à poesia. O eu lírico navega entre momentos de amor não correspondido, de paixão intensa e mútua, de nostalgia por um amor que se perdeu, de sofrimento por um amor que já se foi e de reconexão com o eu nessa jornada de vidas. Avesso ao não sentir, o eu lírico sofre de amor, de morte e de solidão, mas encontra a si próprio na natureza, a canção da vida e da eternidade.

Isabelle Araújo

Mestra em Estudos Literários pela UFPE