”Da alma de uma mulher só saem palavras de amor. É o que dizem. Se não é amor, é silêncio.
O tempo escondeu a voz das mulheres em um mundo que não as aprecia. O vento abafou todos as frases que elas tentaram dizer. Tudo parecia em vão.
Na hora de escrever falavam a mesma coisa, tudo que vem da caneta da mulher é amor. E a tinta borrava o que não fosse isso. O papel tremia se as palavras viessem com mais força.
Mas os dias passaram e com ele as paredes começaram a cair, não resistem a passagem dos séculos. E a voz feminina, antes temerosa e aflita, ganha um novo som: a resistência que vem do coração, palavras duras se desenham nos cadernos, frases reais se desenham no papel com a tinta. Tudo o que foi calado começa a ser escrito.
É muita dor. Sim, muita. A dor de séculos de silêncio. As palavras que saem agora não são doces nem amáveis, são flechas carregadas de dor, indignação e revolta. E a necessidade de ser escutada.
Não espere em ‘’Quem dera o sangue fosse só o da menstruação’’ frases caramelizadas, versos açucarados, momentos cálidos e passagens amáveis. O que está aqui vem de almas quebradas, fraturadas, mas resistentes e dispostas a mostrar ao mundo o peso da verdade, o que é real nas almas femininas.
E atrás de tudo que é real existe uma infinita beleza, uma transparência que se espalha pelo ar. Mulheres têm muito à dizer, depois de séculos sendo caladas. Mulheres têm muito a escrever, depois de séculos sendo afastadas dos cadernos.
Em ‘’Quem dera o sangue fosse só o da menstruação’’ algo fica claro: é um sopro de brisa ler o que existe na alma de todas as escritoras. A leitura é um momento de agradecimento ao tempo, que agora abriu passagem para que possamos conhecer o que a alma feminina tanto tempo foi obrigada a esconder. Ao ler o trabalho magnífico das escritoras nos identificamos com suas almas, percebendo que o tempo silenciou nossa voz, mas nunca a apagou.
Estamos vivas. Temos muito o que dizer, escrever e viver.
Libertar uma voz é libertar a voz de todas”.
Iara Dupont