_sobre este livro
Conheci esta poeta em uma feira. Dessas literárias. De repente, lá na balbúrdia, a menina esbarrou em mim. Ela conta, liricamente sobre isto, no final deste livro. À época com dez anos de idade, chegou e me perguntou, “quero ser poeta: como faço?”. Não me lembro da cara que fiz. Mas devo ter me embananado. Ave nossa! Eta! Por que danado vem essa criatura, deste tamanhinho, querer para si tamanha maldição? A de ter a literatura, desde cedo, como missão. Ou profissão. Não seria mais fácil vender tomates, de repente? Dizem sempre que poesia não vende. Eu digo que a poesia vende, sim, mas não se vende. Não está nem aí para o mercado. Mas o que será que respondi, de fato? Ela garante que eu cheguei para ela e dei a receita. Logo eu, que não sei ferver direito uma água. Hoje, a menina vem e me ensina a ebulição das coisas. Todo fogo, para ela, desde a infância, é bruxaria. Marília Moschkovich cresceu. E com ela, sua poesia. Dezoito anos depois deste nosso primeiro encontro, ela finalmente tirou os poemas da Gaveta. E os oferece, agora, em praça pública. Aos gritos, do jeito que eu gosto. Escancara o verbo, os desejos, os orgasmos. Fuzila, quebra a casca, ressuscita. Inteira, aos olhos do povo, “a fênix que eclode / o próprio ovo”. É ninfa. Ébria. Escreve viva. Uma poesia no fio da navalha. Quente. Fervente. Cria, “derretida”, a sua própria meteorologia. E, madura, anuncia: “poema / e transa / precisam de clima”. O que eu fiz, lá no comecinho, juro que não foi culpa minha. Muitas crianças me procuram. E a maioria segue, depois da possível resposta que eu dou, para um outro futuro. De preferência, longe da palavra. Marília não, ao contrário. Veio me avisar agora, com este bem-vindo lançamento, que virou minha companheira de batalha. Parceira neste crime que eu e ela, há muito tempo, cometemos todo dia. A poesia que nos une. E nos salva. O melhor que podemos fazer por nós. E por outras vidas.
Marcelino Freire