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Só é possível ser feliz numa cidade estrangeira (poemas portugueses)

Disponibilidade: Brasil/Europa

O tempo fez-se, expandiu-se, dilatou-se.
Expôs a polpa sumarenta de fruta madura
a rebentar sementes; um tempo prenhe,
voraz; urgente, tempo egoísta.

Fugidio, escapa dos pulmões a cada golfada de ar,
desfaz-se em fiapos nos interstícios dos músculos tesos,
sente-se desfalecer entre sístoles e diástoles pressurosas,
repousa por ínfimos segundos no dorso da língua.

Este tempo, janela entre o ontem e o agora,
despossuído de mim ou de ti,
explode em partículas de nada e água,
E leva-nos, pulverizados, indistinta poeira,
pelos céus de agosto.

 

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_sobre este livro

O escritor Juliano Garcia Pessanha uma vez escreveu: “Aquilo que desaloja é o mais hospitaleiro”. Em Só é possível ser feliz numa cidade estrangeira, Alexandra não apenas expõe com eloquência esse aparente desatino, mas também alerta com sabedoria sobre o perigo de enraizar e sobre a importância de saber partir quando a cartografia que nos cerca se torna mundana.
Nesses poemas portugueses, tudo que passa por ordinário no cotidiano e tudo aquilo que envolve o destino humano é observado de maneira generosa e com ternura. Essa capacidade de olhar, que se equipara a de um Georges Perec, nos conduz a reflexões sobre os espectros da infância, as ambivalências do ofício da palavra, a fatalidade da morte, a esperança no amor, a inflexibilidade do luto e o tamanho incomensurável do vazio que ele desenha. A morte de um ente querido é uma ausência categórica que não arrefece com o tempo, é um decreto do não. A vida não se repõe, afinal.
Mas a vida se atualiza. Em solo estrangeiro, é legítimo descobrir que partir pode ser como retornar. É assim mesmo: a geografia é um tanto traiçoeira, andamos em círculos. Em calçadas portuguesas, nos aguarda a oportunidade de reaprender a caminhar e a tropeçar, repensar o vínculo com o chão e a impossibilidade de ser colibri. Olhar para o turista criticamente, mas também com compaixão — ele também está fugindo. Olhar para a tristeza com igual compaixão, ela também é um rebento assustado.
Reconhecer que o peso da mala é ínfimo diante do peso do corpo. Perceber que os pés de bebê que estranharam a areia de Ipanema ainda são os pés que hoje em dia ressentem a textura do mundo. Assumir a constituição mineral e a veneração pelas pedras, como quem finalmente aceita as próprias dores. Amar, mesmo sabendo que o amor não é uma estrutura balanceada. Parar de esconder os rastros, aprender a reconhecer os índices, no caminho e no rosto. Amar as ruínas e saber que todo corpo é uma ruína postergada.
O texto de Alexandra transparece uma vitalidade vocabular inédita que nos confirma: a literatura memorável é também uma cidade onde chegamos estrangeiros, ainda sem saber como conduzir a exploração do território e, acima de tudo, sem adivinhar o tamanho do legado humano da incursão poética — e que legado Alexandra nos deixa. Nas frestas destes poemas, a tal felicidade nos espreita muito tímida e, às vezes, nos cumprimenta. Noutras, se despede do leitor com delicadeza, feito uma amiga de longa data que atravessou um oceano para terras portuguesas e sobre a qual nutrimos esperança de, algum dia, vermos novamente.

Harini Kanesiro

_outras informações

isbn: 978-65-5900-699-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 112 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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