Rito de passagem

Disponibilidade: Brasil

E ainda que de ti o corpo eu toque,
não te toco. Estás além,
rainha de tua dimensão outra,
de linguagem sem verbo
e de palavra sem voz.
E ainda que de ti o corpo eu toque,
toco apenas estes nós
que unem nossos destinos
por instantes.

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_sobre este livro

Uma orelha de advertência

Livro de estreia há de ser sempre um ensaio. Em Rito de passagem, de Laura Tomé, temos o ensaio teatral. Não um mero e primeiro ensaio de mesa, mas aquele em que o sujeito lírico entra em cena — uma cena hoje menos avessa e alheia à performance de mulheres — para experimentar as máscaras dramáticas e o figurino de páginas numeradas, colocar à prova os gestos e as entonações de suas falas, examinar as deixas de ação dos autores (próximos ou distantes) com que escolheu contracenar, revisar as marcações dos movimentos e corpos futuros. A plateia pode ser amiga ou restrita, mas trata-se de um ritual de passagem, de um teste do texto: “Eu pairo o texto./Eu pairo no texto./Eu, quando me texto, pairo. […]/… logo eu/ que testo se um texto paira na minha testa/simplesmente testando se um texto me testa/Se me testa ao me textar!//A minha parte eu faço: me texto.”.

Passagem há de ser sempre o lugar e o modo do poema. E a poeta sabe das passagens da vida ao texto e do texto à vida, tal eterno retorno nas diferenças: “Aquela palavra: fronteira./Depois da fronteira,/a vida.”. Daí o cúmulo de substantivos e verbos da flânerie: limite, paisagem, movimento, labirinto, margem, encruzilhada, desejo, passar, viajar, circular, passear, caminhar, atravessar, procurar, apenas para citar alguns. Porque a flânerie da poeta que diz “me escrevo/no escuro” é procura de si e do mundo: “Para o mundo,/precisa-se de/palavra,/fonema,/sílaba,/verbo e/caneta.”.

Procura há de ser sempre amorosa, famélica, sedenta: “A procura não se sabe: se saboreia.”. Com fome e sede insaciáveis, ainda quando refere que “Anoiteceu o vocabulário da poeta”, Laura Tomé não arrefece na busca de si, do mundo, da palavra, do outro, do amor, essas coisas esquivas que se ocultam na noite e iluminam: “Me visitas à noite,/trazes algo para beber:/és tu.”. Porque a procura do amor (como também da poesia) tem algo da ritualística canibal: “O meu corpo pede mais vinho/e a minha boca pede a tua carne.”.

Noite há de ser sempre simbólica, dentro e fora. Ao atravessar a noite, com “O poema na mala” e um verso de Drummond no bolso — “Sempre dentro de mim meu inimigo” —, não é luz nem razão o que a poeta busca, mas estar no e dizer do ritual iniciático da palavra, no qual vigoram em enigma a via e a viagem, o viajante e a paisagem: “Plural é meu eu em minha estória,/que à noite sou santa, louca e puta.”. Então, a todas e todos advirto: ou o leitor devora este livro ou Laura o “indecifra”.

Fernando Fiorese

_outras informações

isbn: 978-65-5900-926-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 120 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

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30 (poemas de amor) para (os) 30 (anos de alguém que nunca amei tanto assim)
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