Retratos de mulher é o segundo livro de contos da Jeanine Geraldo. O primeiro, de 2020, foi As folhas vermelhas do outono — estreia ousada, feliz! E de permeio às narrativas, o surpreendente (delicioso!) livro de poemas Alcateia, em 2022. Com licenciatura e mestrado em Letras pela Universidade Estadual de Ponta Grossa; doutorado em Estudos Literários na Universidade Federal do Paraná; professora de Literatura no Instituto Federal do Paraná; e tendo publicado ensaios diversos sobre narrativas — a jovem escritora entende mesmo do riscado: se vira pelo anverso e reverso da tessitura literária, qual a Penélope de Homero, em versão moderna de astuciosa tecelagem.
E o que são tais Retratos de mulher? Bem, orelhas de livro falam… cochicham sobre certas peculiaridades da obra — mexerico? Que seja, então! Você começa com a história de uma garotinha de 8 anos cujo inusitado presente de aniversário vai levá-la a uma noturna aventura fantasmagórica, revisitada pela voz, agora adulta, da narradora. Um pequeno thriller: começa despretensioso, ardilosamente inocente, e passo a passo, entre falas e reticências, vai-se suscitando a excitação imaginativa, o suspense e, por fim, a fantasiosa revelação. Pudera! Com esse título antecipador — “A enforcada” — açodando a bisbilhotice de quem lê… Ainda dentro do mesmo gênero, meio à Agatha Christie, a trepidante narrativa de “O caderno” — intuições sobre um crime? e uma criminosa? Há mais algumas dessas tramas no livro.
Mas as narrativas são variadas em seus enredos e surpresas, flagrando diferentes vivências protagonizadas e contadas (com apenas uma insólita exceção) por mulheres de distintas idades e condições. Insights e epifanias (ah! Clarice Lispector) — não é mesmo pura iluminação o conto “Dezembro de 1995”? Tensões e perplexidades, buscas e angústias, (in)certezas e questionamentos, dores e amores e revoltas — num clima variável de humor (uma entidade fluida por natureza, não é?), com acenos para o lírico, o doloroso, o irônico, o corrosivo…
Guimarães Rosa confessava numa entrevista que seus textos valiam metade pelo enredo, e a outra metade pela linguagem que o constituía. Seguindo essa experta lição, Jeanine tanto consegue inventar e tramar enredos, como sabe cerzi-los engenhosamente com os fios e lançadeiras da linguagem artística — léxico, construções sintáticas, pontuações, diálogos… Habilidosa conjugação de componentes que torna seus contos verdadeiras obras de arte narrativa!
Ubirajara Araujo Moreira
Doutor em Literatura Brasileira pela USP