Ombros caídos olhando para o inferno

Disponibilidade: Brasil

Às quatro horas da manhã, ela acordou. Ficou insone. Deitada de costas, com as mãos em cima do abdômen, olhando para o teto do quarto, decidiu que ia continuar a viver. Decidiu também que viveria por mais muitos anos. E então voltou a dormir.

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Ao ler Ombros caídos olhando para o inferno, de Constança Guimarães, o pensamento, incômodo porque instigante, de Arendt, pairou sobre a minha leitura. O machismo e a misoginia, como frutos da estrutura patriarcal, são tentáculos nos quais a banalidade do mal intumesce. No livro, gerações de mulheres são massacradas por único homem que, embora apareça como sujeito de um mal absoluto, só pode criar raízes devido à naturalização social da ideia de que o homem é superior à mulher. O mal absoluto só floresce porque socialmente ele é aceito, seja pela omissão do pai, seja pela conivência aterrorizada de outras mulheres, ou ainda pela galhofa criminosa dos companheiros de trabalho diante da violência.

Não por acaso, este sujeito é denominado como “O Delegado”: ali está uma força repressora e violenta tutelada e fundamentada pelo Estado. Num país em que o feminicídio e a violência de gênero atingem índices alarmantes, a ficção nos leva a fazer perguntas desconfortáveis como que tipo de justiça é possível para vidas continuamente violentadas? Em que território os limites entre justiça e vingança se esgarçam?

Nesse livro em que suspense, exercício de poder e tomada de consciência — e de rédeas do próprio destino — se congregam, a atmosfera é densa e as personagens, que estão à flor da pele, parecem saltar das páginas. Um thriller impossível de largar até a última frase.

Micheliny Verunschk

_outras informações

isbn: 978-85-69433-56-9
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 21 cm
páginas: 228
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2017
ano copyright: 2017
edição: 1

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