O tronco é firme, os galhos finos

Disponibilidade: Brasil

em janeiro eu escrevi
“tenho dentro todas as palavras e ao mesmo tempo,
nenhuma”

anteontem me deparo com esse verso de gabriela mistral de 1954

“yo tengo una palabra en la garganta y no la suelto y no me libro de ella”
e lembro quando nayra lays canta
“parindo palavras eu digo

bem-vindo”

R$48,00

_sobre este livro

Em o tronco é firme, os galhos finos, há um duplo movimento que só se realiza por meio de dolorosos e difíceis esforços: a princípio, há um eu lírico que, como cavasse com mãos nuas, busca em seu âmago resquícios da infância e, sem deixar de esbarrar em lacunas e imprecisão, chega a um terreno que é tanto memória quanto invenção; estando lá, há o corpo criado e inventado de menina. A menina, por sua vez, também tem que atravessar a pedra, o árido, não para lembrar, mas para crescer. Não é a rota do herói nem o clássico romance de formação, é a necessidade de, entre a pobreza, o abandono, as desigualdades de toda ordem, sair à cata de estilhaços para formar-se sem saber se chegará a tanto. Em escrita rápida, Juliana Porto realiza um experimento existencial, pessoal e coletivo em que os guetos urbanos se confundem com o gueto subjetivo, em que o lugar da pessoa deslocada, a mulher, mãe solo, periférica, para sempre julgada e recusada, tenta se firmar, em meio a um móbile de recordações pesadas, em território saudável para o crescimento. Focado no eu, os cenários não deixam de se construir ao redor, assim como os personagens. Casas que poderiam ser as de muitas; famílias que, predadas pela pobreza e pelo senso comum violento, também poderiam ser as de muitas. Assim como a autora não diferencia temporalidades, realidade e criação artística, as famílias aqui, no seu modo de existir, misturam o amor e o brutal. Brutalidade que se articula, muitas vezes, sob o signo do machismo e incentiva, na obra, que as lembranças que se costuram também articulem mulheres numa teia que desafia o espaço-tempo: a menina que cresce em mulher, a filha, a mãe, a avó, a bisavó, a mãe que espera na fila da biqueira em um dos poemas, assim por diante. Assim, o texto se organiza contra o parasitismo de classe e a violência patriarcal sem pôr a perder suas barricadas de ternura, de amor solidário que, indiferente à superfície truculenta dos dias, afirma-se como um mundo possível. O que resiste, o que a autora age para manter palpável, é a força de meter as mãos na linha do tempo, reconstruir-se da lama de cacos com criatividade, sendo contraponto a tudo que comprime, quebra e bestializa. Se os galhos são finos, se balançam ao sabor do vento, se temem quebrar à tempestade, buscam o tronco, o solo, o fértil comum das emoções que, ainda que soterradas, lá estiveram. Resiste, o fruto.

 

_outras informações

isbn: 978-65-6035-015-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5cm
páginas: 64 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

Carrinho

Cart is empty

Subtotal
R$0.00
0