da noite escura nasce
um novo dia:
gastar o riso e as
roupas
inspecionar os jardins
distribuir gritos e ruídos
cansar o corpinho
tudo isso sem pressa
sem relógio
porque seu tempo
é ainda o tempo do
passarinho
que você ouve sorrindo
da sua janela
R$48,00
_sobre este livro
Yasmin Bidim escreve esta plaquete não “para” seu filho, mas “por causa” dele. A diferença se faz notar em sua escrita. A chegada de um corpinho intruso faz brotar em si novas palavras, um novo contexto possibilitando a vida. O corpinho que nasce do corpo maior, renovando laços sanguíneos e poéticos, traça seu percurso ao desafiar o tempo: “talvez o novo humano/o pequeno feto/faça durar esse entre/esse ínterim”. O nascimento de um outro corpo traz a possibilidade de continuidade e reverberação de um simples instante: o próprio instante da poesia. Se evocarmos o poema “nascemorre” de Haroldo de Campos, expandimos a concepção de texto para a vida, para os ciclos que se estendem e se transfiguram. Depois do sexo, surge a intrusão de um corpinho que se esparrama, que nada em águas maternas, que ainda não se constitui como indivíduo, mas que “aguarda/a fala a palavra a risada”. Tudo isso, reservado ao seu futuro, se instaura num tempo pré-linguagem, em que o nada é tudo. O corpinho aguarda “o espaço o tempo/o mistério/das pequenas palavras”, mas também os guarda; contém em si as respostas que não sabemos acessar. Se a poesia é a arte de prolongar o fugaz, o fugidio, a autora recorre, nos poemas, a uma tentativa de comunicação com esse outro inaudível que a habita, assim como recorre, através do texto, a uma possibilidade de interpretação de seus silêncios. Renascer e remorrer em forma de palavras nos aproxima da nossa própria existência pré-verbal e de seus mistérios inescrutáveis. Resguardá-los, revivê-los é impossível em todos os momentos, exceto, talvez, num ínterim, num lampejo de luz e acaso que torna obsoletas a ordem e a linearidade. O espaço para o imprevisível nos aguarda, e Yasmin Bidim lança mão de tal imprevisibilidade para mostrar as mudanças e os estranhamentos de quem habita/gera (corpos e) poesia.
Raquel Campos
_outras informações
isbn: 978-65-6035-019-9
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5cm
páginas: 40 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª