Esses dias que estamos vivendo há anos

Disponibilidade: Brasil

tenho dores medievais
não escuto mais berros
costuro partes que não se pertencem
estou límpida e aniquilada
mas parece que vim
para ficar

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_sobre este livro

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Esses dias que estamos vivendo há anos: o terror não cessa de se tornar real. E é no real que nos deparamos com buracos e faltas que nos paralisam, porém, não conseguimos evitar. Como se mover diante da imobilidade que se impõe, diante dos dias que distendem séculos de dor, quando “não existe palavra/ que os impeça de acontecer”? Talvez seja preciso encarar a falta de movimento como um passo inelutável para que se consiga riscar fósforos, acender fogueiras, devolver granadas e depois, dançar a um só tempo, como quem se lembra que “nasceu pronta para todos/ os incêndios”.

Há três momentos que precisamos encarar n’Esses dias que estamos vivendo há anos. Três movimentos de um passo a passo constitutivo de quem não sai dessa história senão como sobrevivente. O primeiro é “quarentena”. Em seguida, “começa uma fogueira agora”. Por fim, “estou exausta de esperar o fim do mundo”. Um corpo em transformação está em jogo nesses três movimentos. De início, parece que há uma suposta imobilidade, mas só como quem não revela de bandeja tudo o que um imenso pensamento não cansa de conspirar: “eu gosto de acreditar que não existe nada mais imenso/ que um pensamento”. O que há nesse ponto zero nada mais é que um grande movimento que vai se ensaiando, ganhando corpo, mas só na medida em que constata os limites de um corpo que está prestes a chegar ao grau máximo da ausência de movimento, só na medida em que expõe a falta, em que não esconde que se está vasculhando cada cômodo vazio que o constitui, cada incômodo que lhe habita irremediavelmente: “na fome inclusive o corpo é alertado para guardar/ energias estocar nutrientes o corpo se reconfigura”. Para que possamos incendiar, precisamos receber e acolher a falta.

Maíra Ferreira, desde A primeira morte (Oficina Raquel, 2014), não se desvia dos buracos, não hesita em continuar encarando, abraçando e amando-os como quem diz, também são meus os buracos mais profundos dos dias, dos anos, do mundo: “tenho lentamente morrido/ a cada mulher morta no jornal”. Muitas mortes não cessam de atravessar um corpo que ressurge, reconfigurado: “costuro partes que não se pertencem/ estou límpida e aniquilada/ mas parece que vim/ para ficar”. Ir ao que queima é queimar junto também. Lá onde se começa a dizer, onde se devolve uma granada, onde se joga, onde se deseja, é todo o agora em que se começa uma fogueira. O corpo que arde de amor e de terror, que já dança ao redor do fogo, esquentando a batalha dos dias, é esse que não precisa mais esperar pelo fim, porque já se move por sobre ele, nele, com ele.

Danielle Magalhães

_outras informações

isbn: 978-85-7105-109-6
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 72
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

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