Demorei um tempo na sala, prisioneiro da luz na televisão. Vazava muito som misturado. Tentei fixar voz na confusão, em vão. Migrei de cor em cor, buscando solidez. Quebrei até o caber no menor dos pixels. Fiz intenção. Forcei um tanto acima do tom, provocando a saída do ar da programação. Preto e branco, ondulando cinza. Escapei pela poeira elétrica grudada na tela a chiar. Ele tropeçou no ronco, mas não despertou. Já perto do chão, peguei carona na pouca luz que havia, almejando ingressar num pedaço qualquer de sonho.
R$52,00
_sobre este livro
Grandes livros e histórias sempre partem de grandes questões ou dúvidas como forma de provocação. Normalmente as respostas nunca são alcançadas, e o grande “barato” é esse: a busca por elas. Desembrulho, livro de contos de Diego Soares não é diferente. Se pudesse ser definido por meio de uma questão seria: “Quem sou eu? qual minha identidade (aqui você também se insere, leitor) a partir de conexões com o outro? Quem eu sou a partir do meio em que vivo e por meio do Deus, com o qual me relaciono? Se fosse ser marcado por uma frase chave seria identidade impermanente. E é essa impermanência que dá o tom dos vinte e um contos fragmentados em três seções ou provocações: casca, miolo e semente.
Talvez a melhor forma de apresentar Desembrulho seja associar a Anicca. Um conceito budista, que é considerado uma das quatro nobres verdades. Anicca define-se por impermanência. Qualquer ideia de existência, seja do eu, seja de um objeto ou de uma experiência é impermanente. Ela não perdura. Tudo se esvai.
Na primeira seção, casca o conto “Desafixado” chama a atenção por não ter um personagem concreto. A figura perpassa por pessoas, ambientes, tempos e ao mesmo tempo se deixa perpassar por eles. Muda destino, muda identidade.
Outras formas de provocações estão presentes no conto “O Ritual do Perdão” por ser justamente o oposto de “Desafixado”. Aqui parte-se de uma personagem concreta que se desconstrói a partir do outro. Sua vida e identidade como conhecia é interrompida pela vida como ela é. Novamente a impermanência. O imprevisível nos molda, nos descostura e costura novamente. E felizmente.
Ainda nesse viés, mas de forma mais leve, o fragmento miolo, trata da identidade a partir das relações, sejam elas familiares ou meramente sociais, e os contos presentes na seção semente nos convocam a todo momento a buscar por tradições religiosas familiares que fazem nos tornar mais próximos de nossas raízes históricas. Destaca-se o singelo e sensível “Pardal e Pedra”.
Vanessa Santos,
_outras informações
isbn: 978-65-5900-248-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19cm
páginas: 144 páginas coloridas
papel polén gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª