Dentro da casa o vazio

Disponibilidade: Brasil

que olho é esse que me olha sem pedir licença
que olho é esse que me segue quando ando
que olho é esse que me faz tremer de medo
que olho é esse que me invade
e me destrói inteira?

R$50,00

_sobre este livro

Os olhos lindos e grandes de Thaíse sempre viram tudo. Pareciam obcecados, mas eram só poesia. Sempre foram poesia. O jeito manso escondia uma cachoeira firme, uma corrente que, antes engana, depois emana afeto e cuidado, mas também decisão. Assim é Dentro da casa o vazio, seu novo livro. Não é apenas uma sequência de Mulher-Palavra, seu primeiro trabalho poético, que foi aplaudido pela crítica acadêmica. É um livro que guarda mais profundamente as inteirezas das águas. Escolhe o vazio ante à casa. No “Diálogo com o Arcuíro”, esbanja intertexto rumo ao “amor furta-dor”. É inteira linguisticamente do seu povo em “Palavra fria”, no qual “teima não existir”, e “como dói”, assim como as dores do genocídio do povo negro, seus iguais da periferia de Itabuna, que lhe pariu. Na “Casa” está a experiência gustativa do seu povo, que não só vive das dores, mas de uma certa beleza, do bolo de milho, do fogo, do feitiço, do poema que atravessa páginas. Os poemas em Dentro da casa o vazio mostram uma poeta ainda mais decidida, arguta, necessária. Ela é o Nordeste, ao mesmo tempo que a estrangeira no Sudeste. Ela pouco pestaneja, senão dribla as intempéries de uma identidade geontológica. Ela brinca com o não ser que lhe fizeram, com o animismo que o racismo, antes de lhe propor, lhe impôs, de ser a coisa na modernidade inacabada, a não coisa, o não poema, o alvo das máquinas de guerra da necropolítica. Thaíse Santana antes ri do que responde o irrespondível frenesi racista. Ocorre aos seus poemas um passeio pelo discurso do colonizador, sem o enfatizar. A sua cara de não mineira/não brasileira, o tilintar e seus efeitos do corpo reconhecendo a casa, o vazio das lembranças, mas não da inação. O poema é movimento como as águas de Oxum lavando todo o ouro do mundo. Parado, o ouro vê Oxum tal qual a mudez perante Nilda, mãe de Thaíse. O que mais me impressiona nesse trabalho é como o movimento fotografa o gesto, e não o contrário. Trata-se de uma obra originalíssima, digna de todos os prêmios e orgulhos da nossa gente, num inconfundível trabalho de poesia baiana e brasileira que carrega com louvor séculos de luta negrodescendente.

Gabriel Nascimento

Linguísta e escritor brasileiro

_outras informações

isbn: 978-65-5900-661-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5m
páginas: 108 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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