Contos de Minas

Disponibilidade: Brasil

Infância

De longe,
Esqueci uma parte de mim,
Esqueci uma parte de Minas.
Esqueci o pé de laranja pendido,
Esqueci a vaquinha maravilha,
E a carreira dos cafezais.
O cipoal no alto do morro,
E o leite quente bebido no quintal.
Esqueci as peneiras de café penduradas na cozinha,
E também o velho da casa desbotada e sem laje.
Esqueci o açude e a canoinha presa com a corda que um dia
eu mesma amarrei.
Esqueci o pai idoso e o chapéu de palha,
O fumo, as histórias e as rezas para a folia de reis.
Esqueci um mundo que agora, enorme, não cabe mais dentro
de mim.

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_sobre este livro

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No conhecido poema de Drummond, José quer ir pra Minas. Mas Minas — diz o poeta — não há mais. Anos depois, Drummond explicaria que escreveu “José” em momento de crise existencial, quando queria fugir de tudo e de todos. Neste sentido nem que voltasse, de fato, para Minas encontraria alguma paz. Mas no mesmo texto Drummond acrescentava que carregava Minas no sangue, por onde quer que fosse. Parece-me que os contos deste livro que você tem nas mãos são como frutos destas duas explicações dadas pelo autor de “José”. De um lado há a vontade da autora de se voltar para as suas origens, de outro, o entendimento de que estas nunca nos deixam por mais que, muitas vezes, queiramos disfarçá-la por vergonha, pelo preconceito que a cidade grande tristemente nos ensina ou pela não compreensão do que há de nobre na luta diária dos mais pobres. Estamos diante de um livro escrito com os pés no chão, sua autora está descalça, precisamos lê-lo da mesma forma. Portanto, comecemos descalçando os sapatos.

Podemos nunca ter pisado os pés na Minas que Lidiany Oliveira nos apresenta em seus contos, mas, rapidamente, nos tornamos íntimos da sua galeria de personagens: a tia benzedeira, Ita, o Sr. Arlindo, e tantos outros. No mais das vezes, somos essas duas crianças — ora o menino ora a menina, ainda num estado onde estas diferenças pouco importam — que figurantes ou protagonistas criavam um universo todo seu para o mundo áspero e seco no qual viviam, “apelidado carinhosamente de ruinha”. É este universo que Lidiany Oliveira recria aqui, escolhendo palavras com a precisão de uma artesã. Cada conto tem a extensão dessa precisão, nada falta, nada sobra, tudo encontra seu lugar — como a autora encontra o seu.

Lidiany Oliveira quis voltar para Minas, para “sua” Minas, “diferente da que o comum reza”. E nunca é fácil fazer o caminho de volta. Até porque se volta para o que se deixou, para o que, num outro momento da vida, entendia que era pequeno demais, simples demais, para quem se acreditava maior que a vida que o pai, a mãe, os irmãos, as tias levavam, volta para tudo o que havia propositadamente esquecido: “o açude e a canoinha presa com a corda que um dia eu mesma amarrei”. Mas aqui não se volta para ficar, volta-se, como disse, para reencontrar o seu lugar, é por isso que seus contos são como se apontasse para si mesma, descobrindo-se entre os negativos revelados de um filme que há muito guardou em sua memória — e se as imagens no papel fotográfico não são mais tão nítidas, devido ao tempo, recorre-se à poesia: a mesma que transforma papel de seda em pássaros azuis.

Cabe a nós, leitores, apreciarmos esses contos como se fossem cartões postais que Lidiany Oliveira nos envia da sua Minas “quase irreal, quase fantástica”, dando notícias do congado que passou por lá, da menina que queria desnascer, do abacateiro que virou pé de laranja lima, se o menino já sarou do bicho-de-pé e até do bolo de milho da tia Hilda. Mas a melhor notícia que poderíamos ter recebido é saber que se quisermos ir pra Minas, Minas há e está aqui nestas páginas.

Ricardo Pereira

_outras informações

isbn: 978-85-7105-035-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5 cm
páginas: 66
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2018
ano copyright: 2018
edição: 1

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