_sobre este livro
Para ler João Pedro Liossi, é necessário se desfazer de algumas certezas, expectativas e conceitos pré-construídos. É preciso lançar-se ao novo, ao inesperado e à incerteza, pois sua poesia nos leva à deriva, ao abismo e ao inusitado das palavras e das coisas. É uma fusão e confusão de sentidos que pode nos transmutar de meros leitores a partícipes de seus poemas. Não se pode ficar indiferente à dança das palavras no texto que não para de se transformar, se perder e achar outros rumos e direções às propostas que o autor nos faz a todo o tempo, verdadeiros e infindáveis convites à aventura da poesia.
A construção poética de João Pedro Liossi está para além de um retrato bem elaborado da vida das pessoas. Sugere, em alguma medida, a possibilidade de elaboração do cotidiano do próprio autor quase como sendo uma suplência às questões com as quais ele se envolve na vida, nos sonhos, nos devaneios; ou seja, sua poesia é a sua forma de se pôr na vida e nas questões que afligem, atordoam e maravilham os viventes.
No entanto, convenhamos que essa habilidade com as palavras não está disponível a todos. Trata-se de uma habilidade única e extremamente delicada de dar às palavras uma vida ímpar ao produzir significados que se desdobram em outros e inesperados sentidos.
A poesia de Liossi é toda assim, despojada e densa, opressiva e libertadora, escondendo-se e mostrando-se num labirinto de saudades, dores, amores, horrores e outros sentimentos, entendimentos, perdas, ilusões e tantas outras coisas inimagináveis.
É preciso ler Aquilo que chamávamos de escuro como se nos déssemos a oportunidade de deixarmos de nos importar com o que nomeamos outrora de isso e de aquilo, de claro e de escuro, ou seja, com o que não se deve nomear sob pena de se perder a poesia.
Alessandra Moreno Maestrelli