Mulheres salgadas

Disponibilidade: Brasil

[sumiês de Lúcia Hiratsuka]

quem sabe
essas águas
nem sejam fluidas
quem sabe esse amor
que nelas cruza
seja de fato
um ponto de paralisia
um flime travado
numa foto

minha cruz

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_sobre este livro

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“muitas mulheres habitam em mim”. É com esse verso prismático que entramos no livro Mulheres salgadas, de Cecília Furquim. E esse verso-síntese nos lança à frase pungente cravada no tempo, anos antes, por Simone de Beauvoir: “não se nasce mulher: torna-se mulher.”

A evocação, apesar de intuitiva, justifica-se pelos versos que se seguem, página a página, nos quais diversas mulheres se multiplicam e convertem-se, cada uma e ao mesmo tempo – mãe, filha, amante, amazona e cunhã –, em uma pluralidade de vozes que tem como ponto de partida um único corpo.

Ainda que essas vozes irrompam de uma foz individual, jamais ela se confunde com um eu narcísico, clamando por uma atenção espetacular e egoica. Ao contrário, ela afirma, insistentemente: “não sei onde começa eu / continua outro / ou termina nós”. Esse corpo que diz “eu”, diz multiplicando-se, ora em uma suíte de murmúrios, ora num grito de espanto, indagando-se como parar um poema diante de uma bruta e covarde execução. Execução essa que se repete seis vezes a cada hora em um corpo órfão de pai e país.

No entanto, o poema não se cala, segue, continua, sempre, pois “para cada poema / cem armas / e mais de mil / balas”. E a voz de cada um desses poemas e cada uma dessas mulheres “tocam / notas de protesto […] pouco se intimida”.

E por mais que se tente, essas mulheres, esses corpos, cada vez falam mais alto, e cada vez mais fortes. Coincidem com a recusa de se deixarem oprimir – “o sopro de um corpo / mistério / não cala”.

Os poemas se dão sob uma linguagem cuja musicalidade nos submete a uma espécie de encantamento, como se neste mar fôssemos conduzidos por Circe e, sob seu feitiço, apresentados a um universo que se desdobra em muitos outros, alguns conhecidos outros sequer vislumbrados.

Esse corpo-voz é metamorfose: é Len “a comer o mundo / pelo esquerdo”; é uma recusa a ser “tubo de ensaio” ou “carne de caridade”; é, enfim, uma Frida cujos êxitos vão além da obra.

Passeando por essas mulheres, por seus corpos e histórias, somos banhados pelo sal delas e lançados em um mar de vozes e corpos que, transfigurando a conhecida sentença de Beauvoir, dizem em alto e bom som: nosso nome é legião.

Em cada uma dessas mulheres ­– filhas, mães, amantes, amigas, guerreiras, artistas ­– fala, ao fim de tudo e de todas, o desejo.

“desejos prescindem hormônios”.

Diogo Cardoso

_outras informações

ISBN: 978-85-7105-155-3
Idioma: português
Encadernação: brochura
Formato: 14 x 19,5
Páginas: 128
Papel: pólen 90 gramas
Ano de edição: 2019
Edição: 1ª

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