Victor H. Azevedo, um velho conhecido nosso de outros livros, agora é detentor de uma gibosa plantação de girassóis. A seu modo, crava imagens suburbanas com vestígios explícitos de uma linguagem autossuficiente — incansavelmente calculada. Azevedo é um verdadeiro poeta da minúcia, da filtragem, pois, dedicando sua obra à Pepita, sua companheira, enquanto recorta quadros vivos da cidade, nos conduz a um romantismo — em um sentido mais cotidiano — peculiar. Com muito cuidado, em poemas como “Te sussurro…”, “Estrela” e “Pepita…”, insere o seu leitor em um universo muito particular, em um universo só possível àqueles que fazem do próprio trajeto (e por que não do próprio movimento?) a sua pátria, combinando estéticas que fazem dele um exímio lapidador de palavras, que não cansa de buscar, a seu modo, uma faceta crua e autêntica.
O poeta escreve: “Este não é um daqueles livros de poesia sobre o amor”. De fato, trata-se de um diário de poesia, um artefato usado para cantar pinturas fotográficas colhidas pela mão do poeta, que forja, como se em argila do manguezal, o itinerário dos girassóis, como quem clama a estrela maior, o sol.
Neste Ao modo dos girassóis, temos a insistência do autor em uma escrita pela reinvenção, que, trajada por um vestuário de palavras, pontua um vértice fora da curva, curva essa que dá gás a Victor H. Azevedo a continuar tecendo uma memória, inconformada ou não, que começa a sair de suas gavetas, de seus diários de bordo, de sua cachola e beija o mundo. Saímos ganhando nós, que somos do mundo, pois o autor parece ter muito mais a contar.
Jefferson Martim Turibio