Invenções a duas vozes

Disponibilidade: Brasil

em 20 de janeiro de 2018 escrevi este poema e
foi a última vez que lembrei
da minha tia ana

R$45,00

_sobre este livro

Em diversas antiguidades humanas, canções e cantos eram responsáveis por contar histórias e compor mitos. Podemos pensar que as artes que chamamos hoje de literatura e música nasceram juntas, como gêmeas siamesas: inseparáveis, sobrevivendo por gerações de bocas humanas. Inventando-se a escrita, uma forma de guardar as palavras na pedra, no pergaminho ou no papel, narrativas não ocupavam mais exclusivamente a melodia, mas passaram à possibilidade do silêncio da leitura. Proponho a apreciação de Invenções a duas vozes, segundo livro de poesia de Tatiana Bicalho, como uma relação dramática da fraternidade entre a música e a narrativa (também da pintura e da fotografia, outras formas de narrar sem palavras): irmãs que sentem saudades uma da outra, mas também podem sentir ódio uma pela outra. Referindo-se às Invenções de Bach, para além da música, temos a invenção da narrativa: uma mentira que, narrada com verossimilhança, pode se assemelhar a uma verdade. Podemos fazer o caminho contrário: certo acontecimento histórico sem verossimilhança, por mais absurdo, é verdadeiro. Faz-se, assim, o humor: rindo da suposta distância maniqueísta entre a pura verdade e a mentira, mandando às favas a pompa da música clássica, brincando com outras línguas. A tradução, por si só, já é outra espécie de invento. Dizer em português algo que era originalmente pensado em uma língua estrangeira carrega uma espécie de falsidade bem-humorada. Falamos, afinal: tradutor, traidor. A legenda aparece nos poemas como uma forma de frustração pelo inalcançável, sendo ele não só a língua do outro, mas também a música e a própria ideia de verdade. Os poemas de Bicalho possuem uma voz metamórfica, de forma que inventar pode ser também uma apropriação. A segunda voz pode ser de Thomas Bernhard (com quem a autora ironicamente partilha as iniciais) com seus traumas musicais; pode estar nas casas de pianistas célebres, ora reformadas em uma hospedaria de nome ridículo, ora com pianos trancados à chave; pode ser uma resenha do tripadvisor; é possível que essa segunda voz seja até mesmo o silêncio de John Cage, quando a poesia responde à piada começada pelo compositor na peça 4’33’’. Este é um livro que se compõe sobretudo de narrativas, que se fixam no espetáculo do banal (a professora de piano que indica livros de capa dura enquanto só lê livros de banca de jornal; o relojoeiro que se torna o homem-metrônomo), tornando banal também o beijo entre Shostakovich e Bernstein.

Laura Cohen

_outras informações

isbn: 978-65-59000-11-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 64 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª

Carrinho

Cart is empty

Subtotal
R$0.00
0