_sobre este livro
Pablo Neruda — em certo momento de sua fantástica existência — comentou o fundamento do ato de escrever. Recorri, então, para realizar este prefácio, à sua famosa e irritante constatação: “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias”. Neruda não foi, de forma alguma, arrogante. Foi sintético e penetrante. O obstáculo para a execução de um bom texto reside, justamente, nas ideias: buscá-las em nosso imaginário é uma tarefa difícil. Contudo, penso que a minha proximidade com a autora permite a elaboração de um quadro representativo convincente e otimista. O leitor deve saber, previamente, que, assim como outros(as) tantos(as) escritores e escritoras, Fernanda também lida com conflitos variados. Ocorre que, ao contrário do conflito básico evidenciado, por exemplo, em Drummond — mais precisamente em “A rosa do povo” — isto é, o “Eu versus Mundo”, o embate-base aqui é o de “Eu versus Eu”.
Lembro-me bem da conversa que tivemos acerca dos significados de “paixão” e “amor”. Nossas confusas (in)conclusões oriundas da pergunta, que, em minha opinião podem ter sido guia de alguns dos próximos poemas, como “Será que já amamos verdadeiramente alguém?”, preparam o(a) leitor(a) não só para alguns “insights” internos ou mesmo reflexões de momento. Eles também convocam a um baile de provocações, cuja parceira de dança é a própria autora, e a música, os versos.
Outro ponto fundamental que destaco, partindo para uma rápida leitura técnica, é a diferenciada construção poética. A noção provocativa se encaixa aqui também, já que a linearidade esperada é confundida por estrofes oscilantes, contando, por vezes, com versos curtos, sucintos. Fernanda ao buscar um estilo próprio, uma peculiaridade, importuna o panteão do padronismo que rege a produção textual dos tempos atuais.
Caro(a) leitor(a), a leitura deste livro é um delicioso exercício para aquele(a) que se descobre cotidianamente. Um exercício que visa perseguir a compreensão dos significados da vida e dos modos que se apresentam para vivê-la a partir da poesia. Por fim, desejo a todos(as) que leem os sorrisos, as caretas e as lágrimas (de alegria): as espontâneas reações de contemplação. À Fernanda, agradeço o espaço concedido e o carinho dado às minhas simples opiniões. Ouso, mesmo que só no fim, dedicar-lhe Rubem Alves: “Somos donos dos nossos atos, mas não donos dos nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos, mas não pelo que sentimos. Podemos prometer atos. Não podemos prometer sentimentos(…) Não se podem prometer sentimentos. Eles não dependem da nossa vontade. Sua existência é efêmera. Como o voo dos pássaros…”
Samuel Campos