_sobre este livro
Muitas são as mulheres de Aline Miranda: as que habitam o seu interior — e florescem com a primavera febril —; as que ela admira e lhe inspiram; as de que se enamora; a mãe — que surge também como metáfora para a força feminina que ancora a sensibilidade de suas palavras. Ela anuncia: “entre as mulheres desejo desejos/ forneço sonhos/ transformo choros”, apresentando, assim, a sua literacura — como costuma dizer.
Temos aqui, uma virginiana atenta aos detalhes, olhos de lince, delicadeza de Açucena y de Violeta, abrigando com sua poesia o néctar de tantas de nós. Os corpos femininos passeiam entre cenários do mundo natural. Por vezes são pedra, água, em outros momentos se encontram, numa dança que evidencia o desejo perene pelo amor.
É ainda no cotidiano das coisas comuns que se revela o seu jardim de cores. Na xícara de café, na saudade da avó, ou no que resta quando se fica só: “ficou um pouco de praia/ na minha cama/ a gente se banha nas mesmas mães águas/ mas nunca juntas”.
Úmidas, suas palavras encontram ainda os astros, orquestrando danças e listas do que fazer (e do que deixar ir com o tempo). Regida por mercúrio, universo da mente, das mãos que datilografam cartas de amor e mostram que sim, há beleza no concreto e nas duras esquinas de existir: “ruas são passarelas/ via por onde/ a vida/ transborda”. É fértil a sua paisagem de poemas que, longe de ser ingênua, atesta que também a morte chega para as flores.
NÉCTAR 44 é o primeiro livro de poesias de Aline Miranda, que tem vasta produção em mídias online, zines e publicações independentes realizadas em sua máquina de escrever. Uma autora que convida as mulheres, sobretudo as que amam outras mulheres, a desabrocharem e se moverem juntas: “o amor é uma ampulheta/ e se não nos detivermos?/ que tal nós nos derretermos?”.
Um livro para se ler sem mais medo de darmos as mãos em público. “Antes que o mundo caia sobre mim/ eu voarei sobre ele/ não me escondo mais afeto”.
Ana Beatriz Domingues