Itinerário para Puma Punku

Disponibilidade: Brasil

Mapas sanguíneos e protuberantes
pulsam
sobre o oceano da minha pele,
queimando
como labaredas solares.

Não há extintor para esse incêndio;
a prometazina pode tão pouco
contra
a hora do rash
os sinais vermelhos,
esse desejo de sair por aí
e fugir de mim.

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_sobre este livro

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Poeta é um rótulo para personagens tão diversas quanto discrepantes. Tasso da Silveira é tão poeta quanto Tavinho Paes. Da mesma forma, Drummond ou João Cabral não são mais poetas que ambos por ocuparem locais de mais destaque em nossas estantes. Como são personagens diversas e discrepantes, seus mundos também o são; por conseguinte, são variadas suas ideias, seus valores e suas atitudes. Talvez engenheiros, advogados, médicos e economistas formem grupos mais ou menos homogêneos; quem viu um, viu praticamente todos. Poetas não. Cada poeta é um, a seu jeito, pois muitas são as formas pelas quais a poesia se manifesta.

Fernando Alves de Medeiros não só tem uma fina compressão dessas manifestações tão variadas da poesia, como uma das mais relevantes características de seu livro é uma sobreposição de tons e de dicções que põem em xeque certas práticas em torno do poema. Em Itinerário para Puma Punku, encontramos um guia lírico e sarcástico do centro e da periferia da cidade ou, se preferirem, do centro e da periferia da Cultura, no qual Fernando mescla linguagens e estilos aparentemente estranhos entre si, a do indivíduo empírico que se move entre esses extremos sociais e a do poeta que filtra, reorganiza e ressignifica as relações entre as pessoas.

Em vez de simplesmente dessacralizar, tirando uma vez mais sua aura, deixando se levar pela espontaneidade ou por alguma anedota ingênua promovida a estética, o que percebemos nesse Itinerário é uma poesia que aceita o desafio de incluir uma realidade invisível para a literatura, com a coragem de empregar expressões e referências populares, mas sem abdicar de procedimentos técnicos inerentes à poética, incluindo-se aquelas figuras associadas à tradição (como a menção às graças silábicas, à estranheza temática e aos octossílabos com pausa na quarta sílaba, no poema que dá título ao livro, que não há como ignorar ser uma citação a Manuel Bandeira), o que obviamente é um desafio permanente, pois os componentes dessa mistura precisam ser cuidadosamente administrados. O resultado a que Fernando chega poderia ser resumido como uma poesia que evoca as musas para cantar as minas.

É uma proposta que, por não levar em conta as hierarquias estabelecidas, corre seus riscos, já que o meio literário é um tanto cioso de suas convenções, mesmo as mais antiquadas, e não raro nega que haja uma natureza poética em textos que não sigam certos padrões instituídos. Roberto Carlos, Belchior, Nelson Ned e Mano Brown, presentes no livro, por mais que falem aos sentimentos e à necessidade de fabulação de um número incalculável de pessoas, não costumam frequentar páginas da crítica literária, que poucas vezes faz concessões para a cultura popular ou para a indústria cultural. Quando muito admite os enfants terribles da contracultura, já que toques de rebeldia convêm ao edifício literário. Grande parte prefere pensar como a crítica. O que vemos aqui não tem nada a ver com simples contestação de princípios, muito menos pose intelectual, mas uma demonstração de que há poesia para além das marginais, pois a beleza não escolhe onde e como aparecer. Há quem só consiga vê-la no Jardin du Luxembourg, mas Fernando Alves de Medeiros a vê também no Jardim São Nicolau, no Jardim Itatinga, no vagão de um trem suburbano ou no amor que se troca por um punhado de moedas.

Paulo Ferraz

_outras informações

isbn: 978-85-7105-063-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 66
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

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