_sobre este livro
G, de Greta. G de Gabriela. G de Guimarães…
Greta que, corruptela de Margarida, significa pérola… Como se furtar à evidência de que o que se dá a ler aqui são delicadas pérolas, pérolas feitas poesia? Poesia em forma de pérolas? Pois Greta revela-se — ou seria Gabriela, Gabriela G. que se revela como poeta? — como matéria (poética) preciosa que transforma cada poema, cada verso em uma concha portadora de outras pérolas e, por isso mesmo, de brilho surpreendente. Greta como nácar de pérola a impressionar o leitor com sua poesia a um tempo luminosa, colorida mas, à maneira de uma concha, igualmente plena de interiorização e de introspecção de um sujeito que se desvela com cautela. Decorosamente.
Gabriela Guimarães integra a galeria dessas escritoras que, sob a face tímida e sorridente de uma delicada figura feminina, é potência, é força poética que mal se contém em versos. Seu início na “Cripta” — título da primeira seção — é justamente revelador. Ali, é todo um silêncio, é toda uma solidão, é toda uma loucura incontida que se torna afinal “constelação”, isto é, reunião de estrelas nacaradas que se fazem poesia. Na segunda seção, “Coro phantasmagoria” — convida-se aqui o leitor não apenas a ler, mas a ouvir e a ver toda a produção de imagens que Greta carrega — descobre-se que a poesia está inscrita no tudo e no nada, na vida e na morte, no ser e no não-ser, na figura e na desfigura, na forma e no informe… Sem contar que se esboça ali, habilmente, certo jogo zombeteiro entre texto e imagem. Em “Ao redor da mesa”, o sujeito poético procura, afinal, “plantar” seus versos em algum lugar. Entretanto, esse lugar, que parece se querer disperso, é um não-lugar, pois que a poesia em Greta deve estar por toda parte e em parte alguma — ao redor de tudo e de nada. A última seção, sob a batuta de Ariel — que a Bíblia representa como um herói e que se aproxima do arcanjo Gabriel (Gabriel/Gabriela…) —, ganha em força e em coragem até alcançar a (in)certeza do ser-poético, impessoal, feito de canto, de grito, de luz, de ar, de mar, de céu.
Que se leia Greta, e é a poesia de Gabriela Guimarães e o belo trabalho do ilustrador Gabriel (ora, ora…) que igualmente parece sugeri-lo, como um magma — e vale lembrar que o termo magma provém do grego máttein ou mássein, isto é, de massa, de amassar. Magma, pois, de que toma em suas mãos o sujeito poético para dele fazer… matéria poética.
Leila de Aguiar Costa.