Passado comum? Arte e política na América Latina contemporânea

Disponibilidade: Brasil

Reunindo um arquivo pouco óbvio de obras contemporâneas que inclui romances, fotografia e filmes que, no Brasil, no Chile e na Argentina, revisitaram o passado ditatorial do continente, este estudo de Gabriel Fernandes de Miranda constrói uma espécie de laboratório onde é encenado o debate recente em torno de noções do Comum e da comunidade. Ao colocar em diálogo e em tensão essas práticas artísticas e ampla bibliografia política e filosófica, o livro esboça de maneira inventiva a possibilidade de uma concepção não proprietária do passado. Com isso, acaba mapeando o estado atual de mais de um campo de estudos, da teoria política à teoria literária, identificando e dramatizando dilemas que são também os que caracterizam as formas contemporâneas da política.

Marcos Natali

R$90,00

_sobre este livro

É um olhar sensível e expansivo o que organiza este estudo, querendo entender como as artes contemporâneas da Argentina, Brasil e Chile vêm se apropriando de um horizonte quase palpável num passado recente, mas brutalmente eclipsado pelas ditaduras, na contrarrevolução organizada por consórcios de proprietários e grupos de extermínio. Como se apropriar, afinal, de um passado em que a vida se projetava exatamente contra a propriedade?

Mesclando literatura, fotografia e cinema, este livro expõe de modo inédito o paradoxo que detecta em recentes demarcações estéticas daquele tempo convulsionado. Com capítulos atentos à imaginação política que permeia narrativas de Julián Fuks, Diamela Eltit, Teixeira Coelho e Patrício Pron, a série fotográfica Ausencias e os documentários Torre das donzelas, El botón de nácar e No intenso agora, são analisados e interpretados diversos modos de encenar e enquadrar as vidas derrotadas nos anos 1970, 1980 e além. Encontrando nostalgia e melancolia, Madres da Plaza de Mayo e Comissões da Verdade, delírio enclausurado e especulação contracolonial, Gabriel vai manejando traços das obras selecionadas com paciência filosófica, em um oficioso laboratório que derrete o arame das cercas liberais e os contornos farpados das fidelidades historiográficas e teóricas. Assim, no mesmo compasso em que as artes remontam lacunas dos arquivos e propõem novos olhares, o ensaio nos ajuda a identificar uma tendência que desvincula os desejos comunistas de sua doação biopolítica a formas de vida arriscadas (como as células revolucionárias). E mostra como as distintas decisões formais deixam para trás ou reativam a despossessão radical que movia as militâncias — sem ignorar as respectivas limitações.

O contato mediado com estas obras publicadas entre 2005 e 2018 nos faz ver, então, um futuro vivo, instaurado e transmitido pelos gestos militantes: entre fracasso e transformação, algo de irritação expressiva e imaginativa se atualiza, em repúdio ao arcabouço jurídico da privatização, em corajosos ensaios organizacionais. O horizonte estético-teórico que se vislumbra nesta abordagem comparativa da arte pós-ditaduras é um em que a vida não aceita ser contada (e contida) apenas pelo núcleo familiar ou pela pátria: afastando estas formações já tradicionais do capitalismo socioafetivo, o livro nos leva a buscar o comum com o foco reajustado na perspectiva de um conflito inacabado.

Vinícius Ximenes

_outras informações

isbn: 978-65-87814-27-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 15,5x21cm
páginas: 480 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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