A partir da teoria de Jean-Jacques Rousseau sobre o mito do bom selvagem, esta é a história de um imigrante brasileiro aspirante a escritor que trabalha numa livraria em Lisboa, onde passa a ouvir os relatos sobre os feitos de um antigo funcionário, conhecido apenas por Mau Selvagem. Uma misteriosa personalidade que se recusou a cumprir o cordial papel destinado ao imigrante de “bom selvagem”, sempre grato pelo “privilégio” em usufruir da companhia do antigo colonizador, e se transformou no Mau Selvagem redentor das humilhações sofridas pelos brasileiros da livraria, antes de desaparecer sem deixar vestígios. Obcecado em saber mais sobre o destino do personagem ideal para o romance que pretende escrever, o livreiro parte numa investigação do paradeiro do antigo funcionário, nos moldes dos livros policiais da seção onde trabalha, na jornada de um exilado de um Brasil constantemente assediado pela escuridão e o atraso, um estrangeiro num país nem sempre receptivo a pensamentos e sotaques diferentes, forçado a refletir sobre as tensões cada vez mais crescente entre os imigrantes e os locais. Um bom selvagem que, página a página, começa a se questionar se o Mau Selvagem não tinha lá as suas razões.