Todos os fins

Disponibilidade: Brasil

Da porta, uma última vez a avistei, certo de que não se perdera. Sua distância da vida era responsável por meu pé na realidade, encaixado na métrica de ter algum descontrole. Apertava o pulso, estancando a luz do relógio debaixo da pele piscando com funções desconexas. Pude ver que de seus olhos pendiam uma reprimida foz. Farrapo de amor.

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_sobre este livro

De volta à cama, ela sentou ao meu lado, passando as mãos por minha testa molhada. Arfava, aquecendo, resfriando.
Qual o seu nome? Deveria perguntar? Já faz horas que não fala mais do que três frases, tão confusas quanto incompletas.
Estávamos presos. Quem era ela? Cheguei a considerar que fosse talvez uma das aranhas no teto, eu ainda lagarta de delírio puro, em breve volto para despertar. Quem? Perguntei se tinha notícias da moça que trabalhava no bar, quem sabe já estaria famosa entre os moradores fora da fronteira, negócios indo de vento em popa. Não me respondeu, suspirando pensativa, o cubo silencioso em meu peito. Abri de leve para ver se ainda funcionava, sua luz firme conforme prometido quando o comprei, mas agora preocupado se duraria o suficiente. Senti um pico de ansiedade no peito, quis levantar logo para sair daquele lugar. Tossi, engasgando, despertando com o ódio que traz a doença dos maus sonhos. Sonha? Nesse ritmo só teremos as paredes de realidade. Recomendou que eu comesse algo, tomasse um banho, assim melhor recuperaria as energias. Até conselho meu, mas falava da fome, suponho. Pão? Fazia horas que ninguém falava em fome, embora quem mais rimasse com nossas palavras fosse o gemido da barriga. Você se acostuma, fica o ruído ali.

[Árion Lucas em Todos os fins, p. 123]

_outras informações

isbn: 978-65-5900-111-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x22 cm
páginas: 176 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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