Ao receber a notícia de que os exilados da Ditadura foram anistiados, Lígia, até então disfarçada sob o nome de Virgínia, decide retornar ao Brasil. Sem destino certo, inicia uma peregrinação para descobrir o paradeiro daqueles que ama, ao mesmo tempo em que luta para fazer as pazes com um passado caleidoscópico e sangrento.
Dividido em duas partes e um epílogo, Os tempos da fuga narra a saga de uma mulher que, na intenção de reaver a identidade estilhaçada pela violência de um regime opressor, parece, na verdade, querer escapar — da própria história, de si mesma e até do leitor, a quem caberá reconstituir o mosaico de sua vida.
O quebra-cabeça que se monta, no entanto, é movediço, e pouca coisa se revela como de fato é. Para que se obtenham respostas, é preciso atravessar um campo minado de perguntas: como Lígia conseguiu se evadir daqueles que a perseguiam? Ela vai mesmo acatar os planos do pai e se casar com Carlos? Ou se deixará guiar por Ângela, jovem sedutora e misteriosa com quem troca cartas de conteúdo secreto? Sob que circunstâncias ela é obrigada a abandonar São Paulo e passar a morar em Saudade, pequena vila rural? Até que ponto a família que a acolhe é confiável? Giuliana, moça com quem desenvolve uma relação de afeto, é parceira ou vilã? Quem foge é, afinal, herói ou covarde?
Entre a literatura política, o testemunho histórico e a investigação existencial, Giovana Proença compõe, com destreza canônica, um romance de delicadezas cruéis e verdades elusivas, pensado e costurado, fragmento a fragmento, para culminar em um final que, de tão surpreendente, mais parece uma explosão.
Pedro Jucá