O bizarro e o fantástico existem de forma simbiótica no Sul do Brasil, como se a existência de um justificasse a do outro. Nessa faixa de terra localizada abaixo do Trópico de Capricórnio, podem-se encontrar médicos nazistas, célebres vampiros e criaturas amaldiçoadas. Mas também a paranoia nos grandes centros urbanos, a fé que leva as pessoas ao delírio, e a vida moderna como um épico antigo. É esse o Sul que Francisco Mateus apresenta aos leitores ao longo dos seis contos de Campo dos Milagres, sua primeira obra de ficção.
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_sobre este livro
Entre em Campo dos Milagres pela estrada principal e, na impossibilidade de passar despercebido, acene para cada um que aparece à sua frente. Não estranhe se alguém lhe cuspir ou uma mula quase te atropelar: a recepção é essa mesmo, com gente simples, trabalhadora, graças a deus. Mas cuidado com Heriberto do Oeste, que deixo a cargo do leitor e da leitora conhecerem melhor, adentrando um dos diferentes estratos do Sul do Brasil.
Em sua estreia como contista, Francisco Mateus retrata esses espaços que habitam em cada um de nós, inevitavelmente paranaenses, mas sem o tom pueril de narração em off dos programas de TV locais e sem a afetividade alienante dos poetas de porteira e seus elogios à terra e à família. Nos textos, encontramos o reflexo de nosso tempo um tanto distorcido, registros-crônicas que passeiam por diferentes pontos de vista e vozes: uma viagem ao interior pode ser desgastante dentro de um Fusca, como o tédio que sentimos, ainda crianças, em tardes infinitas na casa dos avós, ou o alento nas palavras de um amigo compatriota quando em terras estrangeiras — ainda mais quando ele carrega a verdadeira essência do gaúcho.
É inevitável não pensar no espírito latino-americano ao longo dos seis contos, reverberando a nossa orfandade de Bolaño ou Casares. Sair do campo e morar na cidade, procurar um refúgio de si mesmo em apartamentos pequenos e trabalhos insalubres para descobrir com dor o afeto que reside nas lembranças é, certamente, um excelente convite para recomeçar em um novo rincão desconhecido, sempre com a cuia em mãos. Afinal, “Quando não se pertence a um lugar, é muito mais fácil de partir”.
Lucas Silveira de Lavor
_outras informações
isbn: 978-65-5900-514-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 152 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª