Em seu primeiro livro de poesia, Pedro Minet conjura um universo queer conturbado de sexo e violência, narrado por uma série de “meninos mortos”, cujo principal papel no ambiente que os cerca parece ser o de objeto de desejo e brutalidade. Musos, como passantes de Baudelaire, idealizados, usados e finalmente descartados. Ao contrário daquele flâneur, no entanto, aqui são os passantes que contam a história. Cada poema surge como um vômito, tentativas de dar corpo e voz a uma perspectiva quase impossível de se vislumbrar. Como Matheus Ultra escreve no prefácio, essas são histórias não de sujeitos, mas sujeitados. Abjetos. O resultado é inquietante, perturbador e mágico na mesma medida, como escutar bonecos ganhando vida e aprendendo a falar aos poucos na estante do quarto.
Um adolescente decide testar seu poder indo para casa com um intelectual famoso, outro se vê refletido em manequins durante um passeio ao shopping, um terceiro lida com as consequências de transformar a própria beleza em espetáculo nas redes sociais. Seus nomes e características variam, mas as tensões de afeto, sexualidade e poder permanecem constantes. Serão todos, essencialmente, o mesmo menino, reencarnado e velado texto após texto? Autoficção do próprio autor enfant terrible talvez? Ou só símbolos abstratos, recortes de papelão, pontos cartográficos de um contexto muito mais amplo do que cada um deles consiga compreender, muito menos superar?
Tudo isso a partir de uma perspectiva jovem e transgressora, no limiar constante entre beleza e abjeção, que expõe aspectos do imaginário gay contemporâneo raramente abordados tanto na poesia quanto fora dela. Apropriando-se e misturando a todo momento referências díspares, da mais erudita ao chamado trash popular (Genet, Baudelaire e Rimbaud lado a lado de Silent Hill, Yu Yu Hakusho, Brian De Palma, Antonioni e letras de música de K-Pop), o livro reflete formalmente a fragmentação sentida por seus personagens.
Apesar de todos os abusos, decepções e tristezas sofridas pelos “meninos mortos” da coleção, no entanto, há sempre resiliência e um sonho discreto, distante de um mundo um pouco mais suportável. Só é preciso escutar com atenção seus cantos, ecoando suavemente por debaixo das lápides…