Ventre, substantivo masculino que traz o feminino em si. Fertilidade. Perpetuação e abrigo.
Ventre, interior profundo de onde se sai, feito para ser rompido.
Nascer é sempre espantoso, o primeiro grande trauma de alguém.
Deixar o casulo e sair pela vida. É preciso coragem e um tanto de loucura, só assim é que se sai.
Este é um livro de loucuras, de mulheres que ousaram sair. Este é um livro de ventres.
O livro das irmãs Rocha Brandão. Livro de Açucena e Catarina no ano de 1931.
Ano em que se perceberam no ventre do mundo. Ano em que o romperam.
Filhas de um coronel, vivenciam o final da adolescência no Crato, interior do Ceará. Quando Brígida, a irmã mais velha, tem seu casamento marcado com o turco Onur, temem que aquele destino também seja o delas.
Decidem, então, romper o ventre onde estavam para nascerem em outro lugar. Esse lugar seria o Rio de Janeiro, paisagem estampada no postal deixado por Tio Antero, tio que também havia ousado sair pelo mundo.
Partiram já com um rumo certo, como um rio que corre sempre para o mar.
Alguns rios, no entanto, se deparam com veredas em seus cursos.
Cerca de 2.000 km separam o Crato do Rio de Janeiro, e no meio do caminho muitos desvios podem surgir. Com um imprevisto, no entanto, elas não poderiam contar: a separação.
Ao serem separadas, os pés tiveram que traçar novas rotas, contadas nas páginas deste livro.