Uranium 235

Disponibilidade: Brasil/Europa

[Ilustrações Helena Ariano]

oi-se o olfato. E o meu tato? Meus cabelos
devem ‘star caindo, pois sinto
o crânio estar mais leve. Tenho medo
e busco a Dor: eu mordo a língua.
Ai! lancinante, e logo desvanece;
ao menos tem sabor de ferro…

Não sei saber se houve no chão a mancha.
Não soube ouvir o que eu gritasse,
ou se gritei. Toda a minha esperança
era somente aquele sabor acre:
de Ferro… de Ferro… de Fer… de F…
e de… e de… e de… até que…

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_sobre este livro

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Seria megalômano nomear-se urânio físsil num mundo que mal se apreende e denuncia, não fosse a voz dos poemas capaz de autoironia. A surpresa é tornar-se radioativo sem glamour de ficção científica, com um salto ao passado. O poeta se ergue anacrônico — “aqui, rien de nouveau”, tal qual caricatura do pessimismo romântico, duvidoso de sua poética pífia, pedante, demodê. Hermes a um só tempo jovem e velho, almeja mastigar apenas versos e vai mofando conquanto leve. Trôpego, exausto, de estômago fraco e vício por decassílabos — “um soneto, meu Deus?” — de tudo, entretanto, desconfia — “desapreço”. Assim o que começa num exercício egoico negativo — “quisera eu ser como outras coisas, bem mais fúteis, / que sempre encontram uso mais seguro” — acaba por abrir-se: “a Beleza/ é lá fora/ ou-/ trem”. É no alheio que o poeta encontra seu vigor, saúde. A casa muito engraçada não tem teto, o amor que interessa é o dos surdos: “Um deles sembra insinuar/ um algo mais. Um mais”. O poeta morde a língua, petisca o latim, mas anda pra fora, dessa vez moderno, enquanto passam líderes — “num rio, quantas cidades?” —, gestos nos ônibus, prateleiras sem preço, futuro obsoleto de máquinas, Oneguin na periferia e uma pergunta ao Francisco: “que santidade há na escolha?”. Sem resposta, o olhar que enlaça esse volume cria novos órgãos — “O meu abraço, devagar,/ há de mudá-lo. (…)/ o meu carinho move entranhas”. Desviando da ameaça nuclear, o livro parece apostar na pulsão engendrada pelos encontros, na cumplicidade com o que nos muda, mesmo quando o abraço parecer tóxico. Victor Queiroz

 Sarah Valle

 

_outras informações

isbn:  978-85-7105-146-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 74
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

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