O João é desses jovens multitalentosos que damos a sorte de encontrar pela vida. No meu caso, foi alguns anos atrás, numa graduação em letras — formação do escritor. Lá já me chamavam atenção suas muitas e boas ideias, e, mais do que isso, sua disposição para colocá-las em prática.
Essas qualidades, somadas a experiências vividas na sequência (em roteiro, em prosa, em poesia), estão todas presentes em Tranca a rua. Aqui, encontramos a cidade, ou as pessoas, e as relações, da cidade. Através de uma variedade impressionante de sentimentos, afetos e situações cotidianas muito caras ao contemporâneo, Schlaepfer nos convida (nos provoca) o tempo todo à reflexão.
Para isso, se utiliza de elementos que, em geral, tomamos por banais, mas que, nas mãos seguras, no olhar sensível e na inventividade de um autor que vive a concretude urbana, oferecem-se constantemente a novas configurações. Elementos como um cartão de metrô, isqueiro ou um chip de computador, de repente, podem nos fazer olhar para outros lados, nos transportar a lugares para os quais normalmente não teríamos ido.
Quanto à forma, percebe-se, ou melhor, não se percebe o uso de estruturas que sustentam os textos, os poemas narrativos, os sonetos! As aliterações, as rimas, a musicalidade, as repetições vêm surgindo de maneira orgânica. Aqui, nada é gratuito — cada escolha vocabular, cada pausa está no seu lugar exato, gerando deslocamentos e efeitos estéticos impactantes.
Tranca a rua é livro para ser lido muitas vezes, e, tenho certeza, cada vez deve ser uma experiência distinta, como viver a cidade.
Carlos Eduardo Pereira