O irrecusável começa pelo título, corpulento, desenhado por mãos de criança. Com sua pequenina mão, uma cuiatãzinha enlaça a nossa e, sem nenhuma palavra além de um sorriso, puxa-nos para dentro deste livro-labirinto. A criança não se despede, corre e some. Mas a sentimos sempre por perto. Entramos tateando a coerência paleolítica desta aventura. Sentimos que algo nos amarra no calcanhar direito, por lindura de cuidado, por reserva de qualquer perigo; na perna das leitorassauras, um fio, de Ar e Água. Somos muitas, seguras em colo de mãe.
Mas é claro que não podemos achar coerência num labirinto. Só podemos, escrileitoras de convites, estar numa aventura geograficamente subjetivada. Entramos como gostamos: à procura de distinguir a semelhança das aves. Há um enigma nesta esquina que pinça o nosso miocárdio, um augelivrolabiríntimo que instaura ambiente, tempo, sentimento, não desta era. Lugarejando eras. Pois a infância também é uma vida passada.
Interpretamos as paredes tocando nosso caxixi do Mestre Manel. Vocês / que me desvendam tão bem / estão prontos para abrir os olhos?, entalha Marcela Maria, e nos é tão “Tu que me lês / tu vês / talvez / isso é um cavalo?”, de Max Martins, mistério maior que nos mancomuna, que nos mareia de incêndios. Sol em Peixes e Vênus em Áries escrevemos: morder meus olhos enquanto durmo / mastigar o que há de violento em meu sonho.
Dizemos com os olhos: esse ritmo de chagacura labiríntima está gostoso. Vemos: todos os territórios são plurais e poéticos. Entendemos: a poesia já nos foi um peso, o peso de não saber o que fazer com o invisível. Então acreditamos que havíamos nos curado — como aves, migrado — da poesia para o tarô. Mas aí todo [esse] estudo das relações humanas / contidas num espaço específico / delimitado ou não por fronteiras. E, adultas que somos, gostamos de nos perder.
Encontramos: uma saída e uma carta. De amor ou de tarô, não sempre liberam algo que está bloqueado? Uma segunda pessoa? Leitora, o livro és tu quem escreve. O labirinto é o teu íntimo. A jornada agora se inicia. És a maga. Faz teu tu.
Élida Lima