a solidão me cedeu
imagens
a solidão reatou
minha potência
inusitada, a solidão
me reergueu
me garimpou
R$45,00
_sobre este livro
Abrir um mapa cartoneiro, aceso e fugidio; um mapa que, de tanto se desgarrar dos braços, molda desde dentro a terra da caminhada, com seus ares densos de mata cerrada, mas também com o rutilar das águas marinhas, de rudes marinheiros ébrios. Tanto, terceiro livro de Marcus Vinicius Santana Lima, arquitetado como um livro-poema, faz da experiência uma seara de presságios, uma espécie de épico do contemporâneo, com suas partes interligadas a cada página-poema. Há uma captura da palavra escavada na memória, uma embarcação à deriva, paisagem cortada pelo escuro de um país entregue ao medo ou a uma cidade brotada do leite, vingando em si os próprios arroubos libertários. Nessa circunscrição, o horror do flagelo político aparece na figura de um animal/pendurado pelo pé (…) pensando na liberdade como pensaria num grande amor. O tesão e a dor de Mião, o personagem quimérico-adâmico, melhor seria, o animal-nordeste, o homem-paisagem, o ser-em-exílio deflagrado para o combate e o sonho, são testemunhas vivas: eu vi tudo acontecer/castigos e novelos/vingança e torpeza/tudo isso fundou esta terra verde/onde galhos secam e os frutos limam. Mião lembra, em parte, Prometeu, que acende o fogo da poesia sobre a escuridão do tempo. Nota-se que opção da poesia já é uma escolha política do livro, pois a potência poética é uma afirmação de vida, em confronto com o governo da dor e do medo no cotidiano do nosso país e do mundo. Marcus é a mão telúrica a desamarrar as cabras nesta terra em feixes, o impelido para as recordações, o que quis ser artista plástico das calçadas para pintar de branco o mundo escuro dos sonhos. Clama por nomes de um itinerário familiar, sabe a vastidão e a vulnerabilidade das cores sob tantos céus, assim como a artesania dos sons (é bonito ver o livro dedicado a potências sonoras como Wim Mertens e Uakti). Por ser matéria espessa, de início traz algumas pistas: a poesia devém, isto é, devedesassossegar os mitos. O poeta de Juazeiro recorda o mineiro Donizete Galvão, em uma das epígrafes: Remói/a lembrança/de um tempo/em que o corpo e o pensamento/se deixavam levar. Obra de radical sensorialidade, capaz de unir o onírico ao político, de fazer, dentro de nós, uma cartografia de afecções. Recordo Georges Didi-Huberman: O espaço todo é salpicado — constelado, infestado — de pequenas chamas que parecem vaga-lumes.
Roberta Tostes Daniel
_outras informações
isbn: 978-65-5900-191-0
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19 cm
páginas: 100 páginas
papel polén gold 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª