Som e mácula

Disponibilidade: Brasil

memória é registro
lembrança uma faca serrilhada
sem dentes

R$49,90

_sobre este livro

A história da literatura apresenta uma profusão de imagens e tropos nos quais a arquitetura e o corpo estão interligados, podendo surgir como elemento inconsútil entre eu-lírico/personagem e cenário ou mesmo como configuração do espaço mental daqueles sujeitos que habitam a ficção. Em Som e mácula, Lucas Gabriel Soares acaba compondo visões poéticas a partir de referências de um escritor-cidadão permeado pela vertical e faraônica cidade de Balneário Camboriú. Sob tal aspecto, não é difícil localizar nas frinchas dos poemas versos que dialogam com o binômio infâmia e fama — seja da cidade natal do autor, seja da atividade do poeta em si mesmo — e que fundam na paisagem o suporte para memórias — ainda que algumas possam emergir da escuridão dos pensamentos. Por isso, facilmente pode-se pensar no flerte poético entre ruído e nódoa operado por uma ocupação da mancha da página muito limpa, algo que contrasta com versos engastados em coisas que vão da imperfeição ao labéu.

Entre ruínas e arranha-céus, as imagens líricas erguem-se sobre uma paisagem que mistura lembranças de infância e o ruir inevitável das estruturas — tanto físicas quanto emocionais, de onde se ouvem diversos ruídos, incluindo o ambíguo barulho de um salto. O registro das máculas, celestes ou terrestres, sugere uma busca pela transcendência, mas também o assombro da imanência, como demonstram as ruínas, a erosão e os terrenos baldios.

Por essa leitura, não apenas de ocupação arquitetônica ostensiva é feita a cidade em-verso, pois é a engenharia da perfuração e a técnica do andaime que sustentam a exploração poética da memória, nem sempre nostálgica. Há um movimento constante de retorno e projeção, por meio do qual as camadas do tempo e da perda sobrepõem-se, sugerindo, sob a lógica dos estágios geológicos, que somos, do mesmo modo que os minerais, formados pela erosão lenta e constante de nossas experiências. Mesmo as literárias.

Nesse viés é que Lucas Gabriel Soares elabora um diálogo com a tradição, revelando ecos, diálogos distantes entre o eu-lírico e outras vozes, como se as palavras fossem telas fachadeiras de um prédio literário, capturando fragmentos de existências passadas, detritos, pedaços de reboco, ferramentas. As ruínas tornam-se símbolos de resistência, de uma história pós-moderna na qual o poeta, mesmo intimidado pelo passado, sustenta a continuidade de algo maior — um novo empreendimento, um moderno projeto literário.

Marcio Markendorf

_outras informações

isbn: 978-65-5900-822-3
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 72 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

Carrinho

Cart is empty

Subtotal
R$0.00
0