mesmo que eu não queira pensar em você
é no meio da noite que sinto as tuas mãos
quando quero tocar meu corpo
você invade os meus sonhos
atrapalha tudo
R$45,00
_sobre este livro
Já ouvimos de outras vozes a navegar nos genes da poética deste país o quanto é sempre, sempre mais difícil ancorar um navio no espaço. É preciso se deixar engolir pelo precário. É preciso mover e ser movediça. A fala, essa sobreposição de vozes ocas no sem fim, ancora os navios guiados pela cartografia do entre. Mapeamento de uma tessitura polifônica entre as realidades, entre os imaginários, entre os gêneros, entre as línguas, entre as danças, entre os corpos, entre os versos, entre as estrofes, entre os títulos, entre os poemas. “Eles não entendem que toda pele é fronteira”, e por isso, há um convite para outrizar-se. Desfazer mundos trilhando caminhos oceânicos: no lodo de dentro, a terra que dá de comer porque tem fome. O desejo prenhe, gesta e aborta: tudo ao mesmo tempo – “desce até o inferno pra depois subir ao céu, caminha horizontalmente sem saber o fim”. É hora de apreciar o balé das incertezas. Você deixa o abismo te olhar nos olhos? Nietzsche em transe. O poema é antes tudo aquilo que não se é: uma psicanálise historiográfica das dores. Há um querer apressado, corrompendo o tempo e reconstituindo a narrativa. O abismo pode ser muito bem um papo de boteco, eu e você no “fim de tarde – troca de mundos – hora em que te deixo para ser o encontro”, encarando o desfalecer das estruturas patriarcais, arcaicas, escorregadias e violentas. Conta-se que havia na China uma mulher belíssima que enlouquecia de amor todos os homens, mas certa vez caiu nas profundezas de um lago e assustou os peixes – a mulher-merluza sabe que chegar “perto da morte vai aumentar as chances de sobreviver”. Ariana, Alfonsina, Lucas, Virginia, Rose, Lilith, Isis, Bruna. Esses nomes que são vários e os mesmos abrem as fendas da poética, abrem os mundos, abrem as pernas e costuram as feridas. A palavra dissolve a mágoa fincada na história do país que é a nossa própria história. Brune apresenta diálogos no seu íntimo tanto místico quanto mítico e possibilita, assim, o alargamento e alagamento das esferas do sentir. Sua poética traz no silêncio o verbo, o corpo que dança e corta a facadas o corpo do poema disposto a transitar entre seus signos. Sei que nada disso é real mas não suportaria a verdade nos traz a verdadeira realidade daquilo que ancora no espaço: o nosso precário. Afinal, “podemos nos vestir de vários corpos, mas chegará o momento em que será preciso se despir de tudo”. Não perca tempo.
Renata Mocelin
_outras informações
isbn: 978-65-5900-077-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 60 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª