As Parcas eram conhecidas como as divindades responsáveis em tecer, medir e cortar o fio que conduz a vida. Cloto, Láquesis e Átropos, como eram conhecidas, possuíam cada qual uma determinada função no destino dos homens.
Recorro à Mitologia Romana, para falar do livro do poeta Marcus Vinicius Santana Lima. Pouca lã, seu quarto livro, é uma grande tecitura sobre a vida: seus afetos, ausências, seus desejos e desassossegos, mas, sobretudo, é um livro de amor, do homem que tece a palavra e corta quando necessário.
Alguns dos poemas reunidos neste livro foram escritos em uma época em que as feridas do mundo ainda estavam abertas por conta da teimosia dos homens. Coube ao poeta suturar para seguir o fio.
Posterior à trama, Marcus Vinicius se isolou do mundo. A reclusão pelas palavras se fez necessária, assim como as imagens que o cercavam: foi preciso desfazer pontos antigos, tecer outros cenários para que novas matizes pudessem acontecer: “como se/fosse possível/desatar o nó/sem ferir as mãos”.
Escrever é tecer, não obstante, segundo o Dicionário Etimológico, a palavra texto, vem do latim texere (construir, tecer), cujo particípio passado textus também era usado como substantivo e significava: maneira de tecer ou coisa tecida.
Marcus Vinicius tece a forma a pensar os poemas como trama e entrelaçamentos: “a palavra está na ponta/da língua/o que ela diz?/‘não estou pronta ainda’”.
Pouca lã abriga, mas também desnuda, tomando um viés mais político. Mesmo que o poeta descreva laconicamente a tragédia devastadora e incompreensível como foi a de Brumadinho, ele faz da imagem o espólio da vida de outrem. Mas também não faltam esperanças, mesmo que estas estejam no fundo do baú, junto a outros tantos tesouros que compõe a trajetória de sua escrita ao longo do livro.
Marcus Vinicius é quem conduz o fio da sua jornada com a compleição mais significativa do amor e suas conexões. Ele segue amando a trama, os encontros e as descobertas num fluxo constante de sensações, desejos e experiências, exaltando assim as belezas encontradas ao longo do fio da (sua) vida.
Tatiana Bicalho