Este livro de verdes poemas e poemas verdes traz com ele um segredo, segredo carregado dentro de um peito cujo calor transita entre duas metrópoles, São Paulo e o Porto, e que convoca o leitor a desvendá-lo.
A voz poética, firme e sutil, é a grande entrega da autora, que oferece em seu primeiro livro aquilo que ela, pessoalmente, tem de melhor e mais valoroso: o seu existir e a sua forma de olhar as coisas intangíveis, deixando fluir as fragilidades do desconforto mas a beleza incontestável da existência.
Como autora, carrega consigo a sacola da vida. Bióloga, educadora popular, pode ser generosa, paciente, didática ou jogar as bombas no front, quando é preciso. Por isso, empresta à sua poética a sapiência de quem conhece todas as formas de confronto, de quem sabe que guerra se faz com flores e coquetéis molotov, com pão e com poemas; e escreve verde porque verde é, e escreve para tornar verde aquilo que sempre o foi, mas deixou de ser, porque foi desfeito o verde que lá estava.
Nas três fases do livro, os poemas seguem em estado de encanto, e sente-se em cada um deles a experiência vivente do planeta nas suas mais diversas — e sublimes — formas. A poética passeia tingindo tudo de verde. Esverdeia a cidade, a luz e a escuridão, deixa verde a justiça, o minhocão de São Paulo e a gentrificação.
Ao tornar verdes as coisas, ela enaltece a sabedoria do sutil, o conhecimento popular de saber ser, apenas ser, na metrópole, enquanto em apneia batalha-se contra forças invisíveis.
Dois países, o oceano, o trabalhador na sua estação, que é sempre o trabalhador em sua estação, em qualquer país, o amor e sua grande delicadeza, uma carta ou uma receita em que cabe a flor, a pedra, a montanha, a areia, a água e o sangue, a compostagem da própria vida, o extraordinário que só o ordinário pode nos dar, tudo isso são pistas para que o leitor acesse esse segredo e a pergunta que persiste: “qual o lugar do segredo na terra dos homens?”.
A resposta nunca é dada, mas é.
Basta deixar-se ser olhos e ouvidos dos Poemas verdes para encontrá-la.
Manuella Bezerra de Melo