Pequeno manual de preparo do solo para um constructo de destroços

Disponibilidade: Brasil

Porque algum endereço
(sem número)
há que se achar para um verso-coração
(sem carteira assinada)
a perambular pela cidade
a prosa e a troça como seus adereços
de não sucumbir ante a desembestagem dos dias.

R$48,00

_sobre este livro

Se eu já não soubesse que o poeta Zeh Gustavo também é músico, poderia deduzir. Sua poesia vai muito além do clássico empilhamento de versos com desenvolvimento de imagens: é palavra bem acompanhada da melopeia, do ritmo, da construção da expectativa e da surpresa, do contraste. Não como num concerto, mas como numa roda de samba: “[…] um samba todo feito em fundamentos:/versado e tergiversado em manhas e mandingas”. Dessas coisas que a transversalidade e as andanças em outras artes — mas mais especialmente na composição e interpretação de canções — podem proporcionar tão bem ao escritor de poesia, como vemos neste Pequeno manual de preparo do solo para um constructo de destroços. Zeh prepara, literal e literariamente, o solo para o plantio da poesia. Faz a aragem e a gradagem do terreno, dividindo esse compasso em dois tempos. O primeiro é mais manso, um mergulho para dentro da subjetividade, com uma presença autobiográfica mais marcada, saudando as origens; já o segundo traz um salto seguido do “voo para fora”, com o olhar planando sobre o mundo e as suas tantas e várias camadas, personagens, acontecimentos. E o fazer poesia, aqui, é como um voo de milhafre sobre todo esse terreno, da raiz às folhas. Sua poesia traz, no bico da ave, o carinho da mãe que foi muitas, a luta (e o ódio) de classes, a infância, a morte, o esquecimento, a lembrança, o amor, a saudade, o tempo. Em solo, o plantio das sementes é alternado: uma policultura, à maneira das aldeias e dos quilombos, para aproveitar ao máximo o uso da terra. “[…] o sopro que rema/desde a terra/gota serena/sulco no vazio/raiz que se não finca/e ainda assim toca/com seu canto/em cada fio/um breu” (esse poema ainda brinca com a mancha gráfica, como outros presentes no livro, que ora desenvolvem silhuetas na poesia visual, ora ampliam as possibilidades de leitura). Tudo isso é semente bem plantada e bem florida. Ao modo de Drummond, faz o constructo imaginário para as “flores esquisitas” brotarem dos destroços, furando o nojo e o ódio. E para nós, seus leitores, fica a colheita farta, numa paisagem de encher os olhos até se perder de vista. Não olvidaremos.

Amanda Vital

 

_outras informações

isbn: 978-65-5900-653-3
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19,5cm
páginas: 92 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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