Os olhos de Capitu

Disponibilidade: Brasil

Os Olhos de Capitu é visão de águia, telescópica em céu sem nuvens, por perscrutar mulheres e homens, sobretudo aquelas, que se situam em diferentes perspectivas da existência humana. A narradora do conto homônimo ao livro — a própria Capitu — levanta-se do mundo das palavras para inferir seu ponto de vista desde 1899 quando de sua criação; não para desdizer/questionar seu criador — Machado —, mas avaliar sua condição de mulher no tempo outroragora e a de tantas outras que estão contidas no interior de seus olhos.
Ela, entre outras questões cruciais, nos pergunta “Você sabe, homem-leitor, o que é ser uma mulher?”.

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_sobre este livro

Um vento alegre na floresta

Quem conhece a trajetória poética de Flávio Adriano Nantes sabe que ela é uma estrada aberta com bisturi fino em floresta fechada. Sua poesia não é para os facões. Neste Os olhos de Capitu, estamos no meio de uma das clareiras que ele carpiu com sua lâmina delicada. Para dentro dela, o autor trouxe personagens alienadas dos padrões, confinadas às margens, recusadas todos os dias. Estamos agora todos juntos em círculo, no meio da mata, seu silêncio e umidade, e vamos nos olhar nos olhos: o autor, seus personagens e nós, leitores. Vamos olhar com os nossos olhos e com os olhos de Capitu, a musa condenada pela dúvida (Machado é outro tipo de bisturi) e julgada, ainda hoje, todos os dias. Agora, cada uma das personagens vai contar sua história. Flávio, professor, poeta, ensaísta, é quem conduz essa cerimônia que acabo de inventar.

A poesia está incrustada nos contos mais memorialistas, nos mais cinematográficos, e nos que arriscam outro olhar, o ressacado, da crônica. A poesia está nas epígrafes, nos intertextos, nas dedicatórias. A poesia ensaística de Flávio Adriano Nantes — os nomes triplos nos convocam à sigla, e a de Flávio, fan, evoca em inglês o vento, com o som da alegria, fun: Flávio, o vento com som de alegria — cria imagens sublimes.

Como a dos peixes que tentam equilibrar uma mãe com fome, uma sequência vibrante de “Os peixes e a bicicleta”. Ou como a da faxineira que, sem ter nada seu, inventa outro nome para si, só para ter mais coisas suas, em “Na praça santa”. No conto “Mme. Susete”, uma marafona envelhecida desabafa toda a dor do mundo contida em sua alcova: “Fui o que pude ser, amei como foi possível”. No conto “Sonhos”, uma estudante que queria porque queria comer o bombom Sonho de Valsa — o que custaria muito trabalho extra da mãe, costureira — tem seu desejo justificado no delírio miúdo: “A melodia não estava na dança-valsa, mas no ruído da embalagem”. Nos olhamos todos, na clareira da floresta, enternecidos. No conto “O Império do Congo”, a travesti Xica Manicongo grita: “Em minha terra eu era alegre como as árvores, também isso sequestraram de mim”.

Num dos contos mais dilacerantes, “A liturgia do corpo”, como sói às despedidas, um suicida só tem suas palavras para deixar em testamento: “Estou me retirando como sempre o fiz, de forma discreta e imperceptível. […] Às vezes a morte é só uma delicadeza”.

A delicadeza de Flávio Adriano Nantes nesta obra, no entanto, é sempre vida.

 Mariana Filgueiras

Jornalista, doutora em Literatura Brasileira pela Universidade Federal Fluminense e autora de O avesso do bordado (Companhia das Letras, 2023)

_outras informações

isbn: 978-65-5900-861-2
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 144 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

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