Quando tenho dificuldade em adormecer,
conto os dentes com a ponta da língua
Como quem conta carneiros,
recito em silêncio um, dois…
Conto o espaço vazio dos sisos
Perco-me à frente, nos incisivos, e tenho de recomeçar
Há noites em que adormeço com o tédio,
há noites em que me demoro mais
Sinto a aresta do canino esquerdo e volto a senti-la,
vez após vez, saboreando a sua letalidade
Imagino-me a rasgar carne, primitiva
A defender-me de um agressor
Avalio a força que teria de fazer
A eficácia que teria ou não
As marcas que ao menos deixaria na carne alheia enquanto a minha perdia a vida
Isto quando tenho dificuldade em adormecer, claro.
(Adormecer, página 27)
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