Sopa d’Urso

Disponibilidade: Europa

o Herberto morreu hoje
a paixão foi com ele
espero recuperá-la amanhã
espero que seja pelas primeiras horas
da manhã que ela volte
não posso mais mentir
e ainda não sei dizer a verdade
penso nos dias que se juntam
aos dias, as noites que se juntam às noites
e aos dias que se juntam
vejo um jardim
aquele jardim

_sobre este livro

_sobre este livro

A beleza será convulsiva ou não será”. Como não se colocar esta mesma questão, proposta por André Breton, ao ler os versos desta Sopa D’Urso, primeira reunião em livro dos poemas de Ana de Jazus? Neste feliz conjunto, a poetisa nos conduz por uma viagem guiada por imagens comoventes, como podemos observar neste apelo cúmplice: “dos/ ventos do norte/ reconhece- se o pelo e/ quando disse que o abraço/ me amolece a alma/ e que o frio me espanta as asas/ era para que nus nos olhos/ nos olhássemos e para nas/ pontas dos dedos nos tocássemos”. Esses versos bem poderiam ser também um apelo ao/à leitor(a), para que, respondendo a esse pacto, dedo a dedo, entrasse nessas páginas com a mesma delicadeza que se tece a cada linha.

Mas não se engane (nem se acoste) o/a leitor(a) sobre essa delicadeza: ela não amansa nossa sensibilidade dando-nos conforto, tampouco nos põe a deitar tranquilos numa “Anita das Pedras” — muito pelo contrário. Se ao mesmo tempo há uma atmosfera solar nos poemas de Ana, há também sombras que seguramente inquietarão nossa imaginação: “és agressão nas unhas deles/ tormento nas pastilhas deles/ uma vulgaridade nos afetos/ nem condição, nem revelação”.

Nunca saberemos ao certo nosso estado de espírito ao sair dessa Sopa, ou ainda o preço a pagar pela ousadia da leitura — se “dois tostões” ou “duas bofetadas”; se “daqui para ali saltam as tripas” ou se “daqui para ali há um bosque”. O certo é que essa viagem nos conduz a uma rara sensibilidade, em que o afeto é um milagre e “o silêncio é sexy”.

E se posso responder ao enigma inicial, sem que eu seja engolido por um Urso-Esfinge, digo: Sim, será!

“e pumba!/ fez-se deserto”

Diogo Cardoso

_outras informações

idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 68
papel: pólen 80 gramas
ano de edição: 2018
edição: 1ª

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