“O canto de um lugar” ecoa palavras de um começo de tempo. Nos contos de Carolinne Taveira os silêncios e as vozes anunciam, como em presságio, o surgimento de uma das escritas mais profundas e sinestésicas da literatura contemporânea brasileira.
A Paraíba, estado de origem da autora, ambienta e perpassa os tempos das personagens, que tecem enredos que tocam-perfuram as leitoras e leitores mais do que corte de faca. Vozes, que não se permitem calar, revelam a potência de uma jovem autora que carrega consigo as lembranças das suas ancestrais. No conto “A mercearia”, a narradora (nos) questiona: “os teus olhos estão enxutos?”. A essa altura, a leitura já foi muito embaçada-nublada pelas lágrimas de quem acompanha histórias que atravessam os tempos e as lembranças de personagens marcadas pela saudade dos seus. É impossível não se emocionar com as narrativas desta coletânea.
Enredos nos quais até o próprio silêncio grita, espalhando ao vento os sonhos e o cheiro de memórias, à semelhança de um pote de água que esborrota, conforme remetem os termos típicos da cultura nordestina presentes nos contos. Nesta orelha, as narrativas nos sussurram que é preciso ter coragem nessa vida e nos orientam a afastar o medo e deixar as alegrias voarem, amenizando as dores, ainda que um dos contos ressalte: “A gente finge que se acostuma com a falta, mas a saudade só aumenta de tamanho”.
A clareza da palavra desnuda, conforme cita a personagem Tereza – do conto “O encontro de Tereza”, entorpece os leitores que, como pássaros, voam para tempos distantes ao encontro dos que lhes são caros e fundem-se às personagens das narrativas. Destarte, ao mergulhar na leitura desses contos, leitoras e leitores percebem, à maneira da narrativa que nomeia a presente obra, que o lugar que estamos à procura é aquele que está em nós e é vivamente atiçado pelas palavras lançadas nessa poética produção de Carolinne Taveira.
Roberta Tibúrcio Barbosa
Mestra e doutoranda em Literatura e Interculturalidade (PPGLI/UEPB)