Nos confins de um lapso

Disponibilidade: Brasil/Europa

uma revoada de palavras simples,
guardadas
ao acaso do bolso das calças
como pedras, como vagas.
Um veleiro antigo
ou as mãos brandas do destino,
esfolemos a preceito as suas
almas danadas.

 

R$45,00

_sobre este livro

Se atentarmos nas afirmações de René Char, de que “A poesia é o amor realizado do desejo que permanece como desejo”, ou de que “Aquele que vem ao mundo para nada perturbar não merece nem consideração nem paciência”, talvez possamos olhar Nos confins de um lapso, de Fernando Chagas Duarte, e perceber esse frágil mas persistente canto, que se tenta fazer grito, elegia, poesia, em todos os sentidos.
E é um canto por entre tensão, quer filosófica, quer expressiva, nos meandros dialógicos da subjectividade e objectividade interior e exterior, sobretudo em alguns dos textos, pois, como profere: desconheço/a cópula infernal/dos insectos/desconheço/o impossível milagre/das rosas/(…) é que o tempo/tem o paladar do engano/essa substância espessa/da ingratidão.
Se escrever poesia hoje, a julgar pelos actuais circunstâncias de insanidade do mundo, poderá expressar uma atitude susceptível de ainda se resistir, a questão da utilidade do acto poético impõe uma abordagem mais profunda dos impasses que a envolvem na linguagem bárbara do mundo. Este livro é um corpus do labor poético do autor, quer seja na “reconhecida” leitura de poesia, seja no polir do artefacto poético. Citando o grande Antonio Machado, “o caminho faz-se caminhando”, e é isso que F.C. Duarte está a fazer desde o seu primeiro livro, a resistir, a caminhar!
Um livro que, de alguma forma, no seguimento dos anteriores — em que quase todo o labor poético é uma viagem, a do poeta, a nossa, a de todos —, é uma ética da palavra, da poesia, do humano, onde a escoriação e o fogo são, ou só poderão ser, o único catalisador desta poesia, na poesia: serei a mesma parte de um homem/que se alimenta do silêncio,/quase aos braços dele//os animais são uma parte adormecida/essa secreta errância da ternura/que sobe pelos pulsos da existência.
Se antes de Baudelaire e Mallarmé a poesia se evidencia por falar sobre um sujeito que busca somente desvendar as esfinges da sua alma, autores modernos, como Char e, de alguma forma, como o autor, já não buscam uma resolução para o quem sou eu?, mas, sobretudo, questionam, mas e tu, quando surgirás?
A poesia de F.C. Duarte é uma busca incessante da percepção do mundo, interior e exterior, suportada por um palimpsesto lírico e metafórico, mas também fotográfico do real, do seu real. E, se algumas palavras ou imagens o acompanham desde o primeiro livro ou poema — água, mar, chão, lugar, memória, tempo, poesia —, neste livro, como é natural, palavras ou imagens de crueldade, humanidade, guerra, fim, branco, ruína inundam a textura que se reflete no olhar do poeta e do leitor. Perante este mundo, nem a poesia, nos confins de um lapso, poderá travar o suicídio da humanidade: as palavras/estão tão gastas, o passado é tão inútil/como as mãos do mundo/(…)/as pessoas parecem enigmas umas das outras.
Concluo, esperando que a ética poética de resistência que daqui brota possa espelhar-se do “alabastrino” do poeta para os olhos e coração dos leitores e que o amor e a poesia possam reviver a infância, a nossa e a do mundo, para que seja possível ainda o “tempo enfim de ser humano/(…) em transparência”!

João Rasteiro

_outras informações

isbn: 978-65-5900-511-6
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 62 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª

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