Nem eu, nem máquina

Disponibilidade: Brasil

Sei lá, amor, é a pessoa que falei tudo, tá? Se fosse. Ele tentou comunicar: é expressa sua coragem, quase a grafite, quase teve com Maria e Maria em roubo de carro. Por que estou 23 de fevereiro de Carnaval? Só queria que essa alegria tivesse a ver com a sua idade.

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_sobre este livro

Igualmente longe da difícil acomodação do conceito de lugar de fala na criação ficcional e dos prenúncios alarmistas de uma suposta ameaça à subjetividade humana que a IA traria, Drump Goo desloca as questões atuais por meio de uma poética radicalmente democrática: a autoria extinta, mais uma vez e ineditamente. Mais uma vez, porque se insere em uma linhagem amplíssima forjada na insistência de uma autonomia da obra em relação ao autor, da qual fariam parte figuras tão singulares e díspares quanto Catulo e Rimbaud, William Burroughs e John Cage, Lygia Clark e Marcel Duchamp. E ineditamente, porque os recursos de seus procedimentos são recentes e indicativos de um ponto de virada. Se chegamos a uma nova consciência da relação entre a posição do escritor e seu texto ou não, essa discussão vem no instante em que as vozes podem se perder na geração de discurso da máquina.

É precisamente nessa fenda que os procedimentos poéticos de nem eu, nem máquina operam. Na perda do referencial rastreável de quem fala, Goo orquestra textos compostos por discursos ora reconhecíveis, ora insuspeitos, mas nunca identificáveis. Em “Incontornável”, descobrimos de saída a existência de um coro de vozes afirmando, por exemplo, que “o novo punk” é o conservadorismo, o queer, a gentileza, o velho punk e a própria internet. O poema “Identidade nacional” vem se juntar com ironia perspicaz à tradição literária que tenta captar uma imagem do país, revelando por sugestões de complemento da frase “o povo brasileiro é”, fornecidas por um mecanismo de busca, a própria jocosidade fracassada da coerência de um Estado-nação. Em “trajetória”, a relação entre experimentador e máquina que compõe o livro é cortada pelo registro da paisagem frankensteiniana de expressões textuais da cidade. A rua é a transição para um jogo entre oralidade e texto que funciona na brecha entre o que é dito e o que é transcrito automaticamente pela máquina, em desentendimentos que Goo coloca para funcionar poeticamente: os registros de um programa televisivo em “DOMINGO/23022020/20:40” e a transcrição de repetições de uma declamação sua de “Primeiro escrevi este parágrafo…” fecham a obra produzindo fagulhas poéticas ali onde a máquina falha.

O que nem eu, nem máquina arma é uma ponte entre o passado recente e o que está por vir, não como um passo ingenuamente calculado, mas como um salto no eco cacofônico da multidão: “Não é o Candangão, rei dos contatinhos, eu só tô vendo o Brasil”.

Gustavo de Almeida Nogueira

_outras informações

isbn: 978-65-5900-607-6
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 76 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª

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