Na janela da frente não cabe uma cidade

Disponibilidade: Brasil

Não aprendi a apagar imagens.
Vi o mundo
e nunca mais o esqueci.
Nem quando ficou escuro
ele se fez invisível.

Está nos meus olhos
como a estrela na noite.
A duração desse encontro
irá além do tempo.

Olhar único e visão múltipla,
um se funde na outra.
A cada dia inauguro nas retinas
um universo de espantos.

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_sobre este livro

Leonardo da Vinci dá o mote logo à entrada do livro; a senha inicial para descodificarmos uma casa que não é a nossa. A porta ou janela está aberta, e somos convidados a conhecer cada canto que não nos pertence, através dos olhos do poeta que nos fará uma visita guiada. São o espelho da sua alma que, apontamento sobre apontamento, determinará o que cada leitor deve ver, e de que maneira ou de que feitio. O leitor é a testemunha que não sabe o que o espera.

No início, somos invadidos por uma estranheza. Estamos num país estrangeiro, e para qualquer lado que avistemos, tudo tem a roupa da novidade, vista através de uma vitrine. Os cantos da casa conversam connosco; por vezes, paredes vazias, móveis inanimados, pássaro na gaiola, plantas malcuidadas, dizem mais do que textos inteiros, e complexos.

Tudo nesta casa me observa, absorve-me, absolve-me e acusa-me. Lembra-me, instante a instante, cobra o meu tempo, que escoa a cada segundo, e este tem o peso de um silêncio que não se coaduna com o tempo de Cronos, que determina a mortalidade de cada um, mas sim o tempo poético de seu filho Kairós, o tempo sem o relógio mecânico na sua marcha implacável. Mas pai e filho conversam à mesma mesa da eternidade. Poeta e leitor estão frente a frente sem se verem, mas o código é comum aos dois.

Cada objeto, seja o de sentir, seja aquele de se pendurar em qualquer lado; aos poucos, vai entranhando, ocupando espaço, onde antes só havia um terreno de outrem. Como qualquer torneira que pinga insistentemente, marcando o seu ritmo, incomodando o sono – aqui acordado – de qualquer um; assim a poesia vai criando fissuras, lapidando muito devagar a pedra que tem pela frente. Somos esta pedra que vai se moldando, somos esta fenda que se delineia, como um rio, à superfície; vamos cedendo espaço à água que não desiste do seu curso, do seu ritmo, que determina que cada objeto, antes sem serventia, “pendurado atrás de uma porta”, vá ganhando o nosso monograma; e a cada passo, ou leitura, uma nova inicial do meu nome é bordada neste lençol, sobre a outra que antes existia, e se perde na grandeza do território.

É nesse momento de comunhão, de epifania, e de apagamento de outras marcas, que o espelho começa a devolver-me a minha própria imagem. O livro, a casa, a cidade, a janela, o mundo que se vê de fora para dentro, ou de dentro para fora, deixa de ser do deus que o criou. Esta construção já não é mais do poeta que a edificou. Esta construção agora é minha. Eu sou o poeta. Eu sou o leitor.

Ozias Filho

Escritor, Fotógrafo, Editor

Cascais, abril de 2024.

_outras informações

isbn: 978-65-5900-766-0
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 92 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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