Uma mulher sem cabeça, uma conversa-pensamento consigo aberta agora nessas páginas como o diário de uma bruxa sem rosto, sem face. Nessa ausência de figura e semblante habita a mais profunda possibilidade de encarnar se como aglomerado anônimo de mulheres, meninas, manas, minas, gatas, bruxas, vadias, mães, magas, essa vibração infra e ultra perceptível do feminino. Perder a cabeça como gesto de vasculhar-se no íntimo para escancarar o vastíssimo repertório dos nossos enfrentamentos seculares. Perder a cabeça como indício de alteração do estado de regularidade, de normalidade. Não me venham com manter a cabeça no lugar. Que lugar? Aqui vasculho os labirintos de um alter-conhecimento, movida pelo inesgotável desejo de tornar-me insistentemente outrxs. Do ser e tornar-se mulher num mundo macho alfa, onde a decapitação, a mutilação e o feminicídio cotidianos vem esbarrando no anteparo potente dos nos nossos próprios corpos em manifesto.
Carolina Fonseca