Medo de rato

Disponibilidade: Brasil

— Vocês duas, lá pra dentro. E você fique aqui com ele enquanto eu vou buscar suas coisas.
Fiquei logo com vontade de chorar. Eu não tinha feito nada de errado, e se fiz, foi sem querer. O homem disse para eu calar, porque seria melhor para mim, e deu tapinhas no meu ombro. Lembro que depois disso minha mãe apareceu segurando uma bolsa plástica com as minhas roupas e meu sapatinho preto, que era todo arranhado. As meninas também voltaram para a sala, só que ficaram de longe. Choravam e olhavam para o homem e para mãe, esperando alguém falar alguma coisa. Nem dei tchau, e mãe nem disse o vá com Deus que repetia toda vez que uma da gente saía de perto dela.

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_sobre este livro

Medo de quê, Hugo?

Hugo Peixoto é a linguagem.

Quando o jornalista, escritor e especialista em escrita criativa Hugo Peixoto me convidou para escrever a orelha deste livro, tentei traduzi-lo da melhor forma possível.

Conheci Hugo na primeira turma da especialização em Escrita Criativa realizada em Pernambuco, fruto de uma a parceria entre a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), da qual fui ministrante de disciplina e coordenadora. Aquele jovem de Nazaré da Mata (Zona da Mata de PE), e que sabia manejar um facão tão brilhantemente quanto as palavras, me assustava no bom sentido. Assustava, pois não temia manejar nem aquele quanto estas, as tão difíceis e pobres palavras, matéria-prima mais humilde entre as belas artes. Porque, sim, nós, escribas, não contamos com tintas e telas, lentes e filtros, argila e pedaços de cristal. Apenas palavras, tão simplesmente palavras, e que nem toda pessoa que escreve sabe bem manusear sem se ferir com as arestas.

Mas Hugo sabe. Ele não teme deixar quem lê sem o final da história, nem navegar pelas classes sociais mais díspares possíveis, procurando mostrar mais do que dizer, nos convidando a mergulhar em seu universo social, político, reivindicador de melhores condições de vida para os menos privilegiados. Isso tudo sem uma acusação, sem um julgamento. Só nos faz sentir e mudar de caminho. O que era insensibilidade, se transforma em comunhão. O que era emoção à flor da pele, racionaliza os recursos e nos conduz a soluções possíveis em meio ao caos.

Hugo Peixoto é a linguagem. Ou bem transforma os personagens sofridos, humildes, sozinhos em palavras puras que nos tocam o coração. Os finais inacabados nos convidam a escrever junto com ele, a participar da história, porque só é possível construir um mundo novo a várias mãos. Treze contos que representam o vazio, a violência, a falta de sentido, a solidão, a prisão do corpo, a pandemia de Covid-19. Todos eles escritos para revirar nossas entranhas. Sabemos do absurdo que acontecerá com os personagens, mas os acompanhamos até o fim, como se disséssemos: “Vocês não estão sós”.

E, diante de tamanho afeto, pergunto a Hugo, pergunto a quem o lê:

— Medo de quê, Hugo?

 Patricia Gonçalves Tenório

_outras informações

isbn: 978-65-5900-148-4
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13 x 19 cm
páginas: 88 páginas
papel: polén 90g
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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