Medo de quê, Hugo?
— Hugo Peixoto é a linguagem.
Quando o jornalista, escritor e especialista em escrita criativa Hugo Peixoto me convidou para escrever a orelha deste livro, tentei traduzi-lo da melhor forma possível.
Conheci Hugo na primeira turma da especialização em Escrita Criativa realizada em Pernambuco, fruto de uma a parceria entre a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), da qual fui ministrante de disciplina e coordenadora. Aquele jovem de Nazaré da Mata (Zona da Mata de PE), e que sabia manejar um facão tão brilhantemente quanto as palavras, me assustava no bom sentido. Assustava, pois não temia manejar nem aquele quanto estas, as tão difíceis e pobres palavras, matéria-prima mais humilde entre as belas artes. Porque, sim, nós, escribas, não contamos com tintas e telas, lentes e filtros, argila e pedaços de cristal. Apenas palavras, tão simplesmente palavras, e que nem toda pessoa que escreve sabe bem manusear sem se ferir com as arestas.
Mas Hugo sabe. Ele não teme deixar quem lê sem o final da história, nem navegar pelas classes sociais mais díspares possíveis, procurando mostrar mais do que dizer, nos convidando a mergulhar em seu universo social, político, reivindicador de melhores condições de vida para os menos privilegiados. Isso tudo sem uma acusação, sem um julgamento. Só nos faz sentir e mudar de caminho. O que era insensibilidade, se transforma em comunhão. O que era emoção à flor da pele, racionaliza os recursos e nos conduz a soluções possíveis em meio ao caos.
Hugo Peixoto é a linguagem. Ou bem transforma os personagens sofridos, humildes, sozinhos em palavras puras que nos tocam o coração. Os finais inacabados nos convidam a escrever junto com ele, a participar da história, porque só é possível construir um mundo novo a várias mãos. Treze contos que representam o vazio, a violência, a falta de sentido, a solidão, a prisão do corpo, a pandemia de Covid-19. Todos eles escritos para revirar nossas entranhas. Sabemos do absurdo que acontecerá com os personagens, mas os acompanhamos até o fim, como se disséssemos: “Vocês não estão sós”.
E, diante de tamanho afeto, pergunto a Hugo, pergunto a quem o lê:
— Medo de quê, Hugo?
Patricia Gonçalves Tenório