Massa amorfa

Disponibilidade: Brasil

o dia grita morte
a noite grita morte
e eu grito para ambos
por que eu não
morro de uma vez?
às vezes
por que eu não
vivo de uma vez?

R$49,90

_sobre este livro

Os poemas de Massa amorfa, obra composta de 60 entradas de um diário, usam de uma variegação de estilos e recursos estéticos, indo do verso livre ao haikai e ao tanka, passando também pela página em branco e pela gravura, para contar a jornada de desconforto e inadequação de um eu lírico que vê sua vontade de potência desandar em um non serviam irrefreável.

Há, nesses versos, uma batalha de reconhecimento do “eu” no mundo; batalha perdida, visto que ele é incapaz de se encontrar nas formas fornecidas por esse mundo. Isso aparece na discrepância entre interioridade e exterioridade, entre o Ser e a aparência, entre aquilo que se espera e aquilo que se obtém de si, da vida, do outro. Essa dualidade está presente também na forma e organização dos poemas, e no espelhamento estrutural do livro.

Se a vida, externamente, é regida pela incerteza e pela contingência, fluindo como o rio de Heráclito, é feita internamente de uma não aceitação tenaz daquilo que se experiencia. Viver desse modo significa observar e ruminar, mas sobretudo lembrar: o entendimento e a vivência chegam somente com atraso e de forma retrospectiva, num recorrente esprit de l’escalier. O eu lírico jamais está , mas dentro de si, que é um outro lugar.

No entanto, a tentativa de encontrar sentidos para si a partir dos próprios rastros se mostra vã, já que os rastros se constituem de tentativas elas mesmas frustradas de se estar no mundo, e que, por isso mesmo, nada explicam; não revelam indícios de uma natureza que esclareceria o estado de coisas presente. O “conhece-te a ti mesmo” não pode, portanto, ser confiado à recuperação, através da memória, de uma inocência e ingenuidade genuínas, pois, se já existiram, são, de todo modo, irrecuperáveis.

Como é possível que consciência e corpo coexistam? É aceitável que ambos não sejam irreconciliáveis? Questionamentos sobre o sagrado e o transcendente se misturam com os dilemas do corpo, e também com a inacessibilidade do Outro, que se apresenta como mistério. Se há algum conforto possível nessas relações, vem do silêncio. E o que se ganha com isso é uma perda: manter-se em um insistente estado de vir-a-ser, constantemente na iminência de algo que não se realiza.

Massa amorfa é a segunda publicação de F. K. Bettiol, e dá seguimento ao projeto poético iniciado em O velho. Autocontido, este segundo livro, de maior fôlego, levanta questões próprias e, de maneira brilhante, concentra em uma metáfora todas as suas preocupações estéticas, criativas e temáticas.

Lucas Hirata Mizuguchi

_outras informações

isbn: 978-65-5900-809-4
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x16,5 cm
páginas: 96 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

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