“A vida em seus métodos diz calma” já dizia o cancioneiro pernambucano, e é com essa premissa que Victor Pimentel escolhe inaugurar seu primeiro poema em Jabuticaba. A partir desse momento, o autor nos convida a nos atentar às marcas de seu metrônomo, a contabilizar um tempo pertencente aos poetas, que conseguem atingir a proeza de chegar na beira de deus, pelo olhar.
Assim, Victor por não conseguir deixar de ser Victor, funde-se às formigas – detentoras dos mistérios do mundo animal -, para contemplar o tempo das plantas, e o cotidiano dos formigueiros. Dos caramujos gelatinosos até uma sobremesa pelas beiradas, passando pelos olhos que se beijam e pelas luas no interior de jabuticabas, Victor esmiúça o horizonte dos nossos minutos. Como quem espera sua canção favorita passar na rádio, enquanto observa as costas dos prédios se bronzeando, e entende que “a calma das coisas vivendo em seu tempo, é a chave do próprio tempo”.
Ao entrar em contato com Jabuticaba, fui atingida por uma profunda vontade de viver, de mansinho, esvaziar-me das distrações cotidianas e imergir em um profundo compasso das crianças, dos amantes e daqueles que estão plenamente vivos, ao passo de gritar. Como no poema ambulância, que Victor irá dizer que as sirenes, responsáveis por gritarem no lugar dos incapacitados, ressoam “ecos de dor que perturbam a ordem do dia”.
E se na Austrália, o poema é um meio para chegar ao outro lado, engana-se quem pensa que tal vocação temporal de psicodelicadeza do gesto é exclusividade apenas dos artistas ui ui ai ai, ou dos poetas que quando dormirem de terno continuarão vivos. Na obra de Victor, não é o poeta, mas sim o leitor que conduz a viagem – ao universo infinito da casca de jabuticaba.
Beatriz Veloso