Istmo

Disponibilidade: Brasil

quero ouvir ininterruptamente
ininterruptamente o som do seu coração
escutar escutar escutar
até a hora de romper
até a hora de escoar
até saber te perceber
até saber te repetir
e te percebendo, te repetir
como se repetem as ondas
as linhas da minha mão

R$52,00

_sobre este livro

“Istmo: 1 (geografia), estreita faixa de terra que liga uma península ao continente; 2 (anatomia), estreitamento que conecta duas partes de um órgão”. No mesmo dicionário, descubro que o termo deriva do grego, isthmós, “lugar por onde se vai”. Ao fim da busca, lá por quinze pra uma da manhã, a atenção flutuando entre sono e vigília, navegando a esmo em páginas de definições informais, uma imagem me deslumbra:

Istmo é uma “língua de terra apertada.”

É como sinto este livro de estreia de Nathália Lima, cujo título me conduziu à pesquisa descrita acima. Num vocabulário que se sustém em “terra estreita”, os poemas aqui anunciam pela palavra o que escapa à palavra. Surge na leitura a impressão de estarmos caminhando em solo pouco; nós e nossos pés escassos, à deriva.

Istmo é um convite a que abracemos a errância, o passo em falso, a queda e a vertigem como modo de ser da poesia, como lugarejo onde o próprio dizer testemunha uma ferida que está fora da língua — corte sem batismo, “selo escorregadio”, “uivo” nascido no corpo, na coisa viva. Esse é o chamado de Nathália, e ela o faz com o raro domínio de recursos expressivos que só se vê na grande poesia, com plena liberdade quanto a se movimentar pelas imagens e sons, intercalando fluidez e corte.

Temos em mãos um livro de interstícios, do que se tateia nas divisas, entre “escamas, velas, sinos trincados”. Atravessá-lo é aprender a falar um “palavreado apertado”, compreender que há rios que se deixam antever mesmo em “terra seca”. É sobretudo descobrir que “o mar esconde epígrafes”, e que talvez seja possível lê-las nas ruínas de cada litoral, nos despojos sobre a areia — tapete de cascalhos, de moluscos. De pedras e perdas.

Um “peixe sem título” nos arrasta pela garganta nestas páginas. Através do animal fugidio, a poeta indica que poema e corpo se singram mutuamente, do que se depreende então uma marca. Uma cicatriz que canta.

Mar Becker

_outras informações

isbn: 978-65-5900-346-4
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 136 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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