É com muita satisfação que vemos chegar a público a segunda edição (revista e atualizada) do livro “Humor, língua e discurso”, de Sírio Possenti, agora sob a chancela da Urutau/Margem da Palavra.
Essa alegria se deve a pelo menos dois motivos: primeiramente, para nós que somos não só apreciadores, mas também estudiosos do fenômeno humorístico, trata-se de um fino e bem elaborado conjunto de ensaios, com análises precisas, sobre diferentes práticas que ensejam (ou tentam ensejar) o riso: das piadas de “descobrimento” do Brasil às manifestações emergentes nos meios digitais; das estratégias linguageiras e discursivas como o uso (e abuso) de estereótipos às boas e velhas ambiguidades (os duplos sentidos); enfim, flagrando e elucidando diferentes aspectos do humor (como acontecimento discursivo e como especificidade linguística), Sírio Possenti explica como a condição humana (universal) de rir e fazer rir é “coisa” que pode ser tratada, pelas vias do conhecimento científico, com muita seriedade.
A isso, já se sabe, atrela-se a presença do professor Sírio no pioneirismo e tradição brasileira de estudos sobre Humor e Análise do Discurso, dispensando, assim, maiores comentários. E daí desdobra-se o segundo grande motivo para encarar a leitura deste livro como grande prazer: sobre o tom que o próprio autor descreve como “irregular” (é acadêmico? é jornalístico?), podemos dizer que se trata de um convite à leveza e ao bom-humor em sua leitura. Tanto que sutis ironias destilam-se ao longo de todos os 14 ensaios, começando pela própria apresentação, na brincadeira de uma autoderrisão com que o autor nos conquista prontamente com certas passagens: O fato é que só sei fazer textos curtos (e alguns dirão nem isso), ou ainda em vou ter que praticar muito (ia escrever gramar ou pastar, mas evito possíveis derivas de interpretação). É desse jeitinho que o autor mostra como o complexo não precisa ser, necessariamente, chato.
Se considerarmos o humor como exercício de luta e poder, este livro “Humor, língua e discurso” volta à tona em ótimo momento: momento urgente de distinguir cada vez mais como o humor pode ser técnica refinada ou reles ofensa, o de compreender como o humor pode ser retrógrado ou revolucionário. Sírio, como uma estrela de boa sorte, mostra ao público, afinal, como é por meio do humor que nós, demasiado humanos, somos tão contraditórios e plurais.
Cellina Muniz (UFRN)